Cicatrizes de Memórias
Esta mania de me perder pelo calçadão da praia, ou de repousar no banco de pedra esculpida, deixa-me frente a frente com o vaivém das marés e as lembranças que elas convocam. Memórias boas, indeléveis, cravadas no meu ser como tatuagens da alma.
Não são sombras a me assombrar, mas constatações. Fragmentos matizados por cores suaves, às vezes enigmáticas, que, no seu surrealismo, me abraçam. São pinceladas de realidade que, mesmo pertencendo ao passado, sustentam o presente — uma bolha de aguarelas onde me refugio.
Será loucura, talvez. Mas, entre os abismos que às vezes me rondam, há algo de sagrado nesse desvario. Uma sanidade peculiar que encontra na memória um porto seguro.
As cicatrizes permanecem, não como feridas, mas como mapas que me guiam. Há um beijo trocado junto ao rio, perdido na noite pardacenta e gélida. Um casaco emprestado que, naquela madrugada, se tornou abrigo para o corpo e a alma.
Foram gestos simples, porém eternos. Amor e amizade teceram um laço que o tempo não desfez. Cicatrizes, sim, mas daquelas que enobrecem. Elas vivem comigo, ancoradas entre o ontem e o amanhã.
Imagem :Kindra Nikole
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