terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

As palavras que ainda não te disse


É em silêncio profundo,

que me sufoca na distância desmedida

de todas as cidades que nos separam,

que eu ainda te espero (enquanto faço um esboço

do que será o teu rosto).

.

Nas muralhas impassíveis (do destino), adejam

aves num esvoaçar de asas soltas

em ininterrupto movimento.

E as penas delas, caídas na agitação do voo,

juntam-se à minha pena persistente.

.

Tenho um nome (o teu)

esculpido no silêncio das muralhas,

reavivado nas memórias que abraço nítidas

e nos lentos olfactos que viajam em mim.

.
Quero estreitar, por isso, o corpo e a alma

desse rosto esboçado que eu amo, para além

de todas as distâncias e de todos os silêncios,

de palavras que ainda não te disse.



Foto:Paulo César

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Promessa

Prometo
Nunca mais guiar as minhas mãos
Em jornadas silenciosas
Ao afagar a tua pele – morena
Em gestos alucinados na posse
Dum corpo que me chama
Na cegueira destas mãos desobedientes
E insubmissas.

Prometo
Não mais, te falar de paixão
Nem do desejo indomável que por vezes
Devasta uma intempérie imprevista
Dum corpo alienado em desvairo nas asas da loucura
Em extase alucinado

Porque cada grito trucidado
Cada lágrima derramada – contrariada
Cada mão em gesto estático
Será tudo o que eu não disse
E quis dizer
O que não fiz e quis fazer
Retida no vazio calcinado
E sufocado duma promessa.

Prometo!
.
Foto:Graça Loureiro

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Fantasmas


E talvez os fantasmas – meus –

Sejam os teus

E a noite não seja o términus

Da presença – deles.

.

E talvez a tristeza – crua

Sufocando o bramido

Nos abismos – cavados – em vertigem

Seja somente o amanhecer sem dormir.

.

E ao longe as gaivotas – sobrevoam

Sossegadas (nunca)

E o tempo em declínio

Sobre tudo – menos – neles

Que ressuscitam - sempre

No horizonte por vezes opaco.

.
E talvez um dia eu tenha

Uma adaga

(um lápis de cera)

Um rascunho, esbatido.

.

E talvez o meu grito ressoe.

E ao longe rufam tambores!

Foto:Argoth

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

alvoradas de sal

Desfiz a noite em fragmentos suaves
e as estrelas desabaram nas minhas mãos
resplandecendo .

As areias da praia revolutearam
indefesas e delirantes.
E no pontão da praia a maresia serpenteava
As palavras - dispersas.
.

A noite encolerizada escudou-se na lua

e ao longe o mar cantarolava

a ária dum poema embriagado

de memórias azuis

emoldurado nas constelações

Que fizeram nascer

o dia.

.

E sonho Fevereiro em alvoradas
de
Sal.