terça-feira, 24 de novembro de 2020

Pode esquecer um nome, mas um corpo nunca se esquece



Não precisas chamar, ainda tenho a chave de casa
Estarei contigo quando a luz das ruas se apagarem
Quando nada lá fora te interessar 
E queiras apenas deitar a tua cabeça sobre o meu ombro
Nem precisas falar, eu conheço o aroma do teu corpo
E se for preciso guiar-me-ei por ele
Sabes , podes ter esquecido meu nome
Isso não é relevante para mim
Só espero que o meu corpo ainda seja igual
E te faça reviver o passado

Pode esquecer um nome
mas um corpo nunca se esquece
 

©Piedade Araújo Sol 2020-11-18 

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terça-feira, 17 de novembro de 2020

Mais uma noite, apenas.

 


A claridade só faz sentido se dialogamos com a escuridão. 
E a vida se inaugura a cada novo dia. 
José Carlos Sant Anna 

Tento escrever na taciturnidade,
desta tarde que se esvai em tons de cinza,
e isenta de quaisquer odores,
em imagens dúbias e enigmáticas.


Escrevo para combater o medo da noite,
quando a luz se apagar e quando por experiência,
sei que será mais noite traduzida numa insónia recorrente.

Tento convencer o sono, vesti o meu pijama mais bonito
aquele azul , que tem a Hello Kitti ,
e engano-me aguardando a chegada do sono,
como uma réstia de luz na escuridão.

E enquanto espero , para lograr a espera,
fecho os olhos e começo a pintar na minha fantasia,
a escuridão de lilás, depois vou inventando,
e esbatendo cores, onde realço uma lua bem no centro.

Mais uma noite, apenas
de vigílias e espectros inverosímeis,
Se o sono chegar, tanto melhor!
Porque como diz o Poeta.

E a vida se inaugura a cada novo dia.

Autor : ©Piedade Araújo Sol 2020-11-16
Imagem: Viktoria Haack

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terça-feira, 10 de novembro de 2020

Neste estado de mim e do tempo


Trago em mim a imensidão 
do areal e a cor azul do céu 
e das águas do mar. 

Em todas as viagens consumadas 
há tempestades imprevistas 
o tempo nunca será só de bonança. 

Trago em mim a saudade desta caminhada 
que não renego, que guardo 
esparramada em mim. 

Mas sem lamento, sem mágoa 
apenas saudade e nostalgia 
dum tempo que em mim ficou assinalado. 

Trago muitas lembranças boas, e más 
porque a minha vida faz parte delas 
por isso as tatuei nas rochas, para não as esquecer. 

Para se fixarem no tempo 
para sempre, como uma música 
que a brisa entoa baixinho para ninguém ouvir. 

Apenas trazida pelo eco do vento 
em dias de brisa amena, e 
ornamentada por fiapos de solidão. 

©Piedade Araújo Sol 2020-11-07 
Imagem : Viktoria Haak

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terça-feira, 3 de novembro de 2020

Caminhada


“a viagem não é o princípio nem o fim
é o caminho que se faz”
Hajota

Estremeço com a imensidão que se quer azul 
E que agora é pressagio de intempérie 
Ando á deriva de mim 

Sem passos autênticos nesta viagem 
Que se torna inglória e nefasta 
Cada vez mais perigosa 

A minha sombra desliza entre 
Sinuosidades 
Como em desnorte de mim 
Com tempestades alheias 
Ao meu medo e pesar 

Oiço o canto dos ventos 
Como uma balada trágica 
Que ressoa na solidão 
Dos plátanos da praça 

E de nós 

Esqueci o princípio, perdi-me na viagem 
E não encontro o caminho certo 
Para chegar a porto seguro 

©Piedade Araújo Sol 2020-11-02
Imagem : Nikolay Tikhomirov 

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