terça-feira, 27 de setembro de 2011

Setembro



Tinhas o orvalho nos olhos – verdes
E eu nunca reparei
Não sei em que depositei o meu olhar alheado
Talvez amedrontado

Se
 o melhor em que em mim havia
era uma fuga infalível
para além do horizonte que eu desenhava
nos azuis

Eu nunca quis olhar para as açucenas que nasciam
E que exalavam o perfume que me entediava
E me recordava de ti
Setembro foi apenas um mês
Mais um

Que acrescentaria a todos os outros
Dum calendário inexistente
Mas sempre dependurado em mim

Setembro foi a quimioterapia nas dores
Atenuando a ausência de todas as ausências
Renascidas

E o culminar desta chuva que cai em mim
Lembra-me agora a premonição
Do orvalho no teu olhar
E que eu nunca reparei.


© Piedade Araújo Sol 2011-09-29
Foto: aniawojszel

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Letras Soltas


Desfaço letras soltas, invento frases
Momentos
Transformo-me em lava
Quente, cinzenta
Transmuto-me em sílabas
Silêncios
Verbos
Consoantes
Desbravo sentires
Estórias, breves, sintomáticas
Alojo em mim
O poema
Rasgado, ríspido
Magoado
E
A dor de ser
Ninguém – de mãos dadas 
.
Em fragmentos de instantes
Dum livro disperso.
.
© Piedade Araujo Sol

terça-feira, 13 de setembro de 2011

divagações

Para C.M.P

Saio para a tarde à procura de uma luz numa nuvem que se me ateia como um garrote, suicidário.
Sei que existe outra luz num mirante, para os lados onde o vento fustiga logo pela manhã, e onde me perdi um dia em conjecturas inverosímeis de cores em paleta de aforismos rubros e verdes de esperança

Mas o vento levou tudo e apenas me deixou aqui, plantado numa sombra inexistente de mim.

Procurei estilhaços e em meu olhar apenas senti frio e sal algures em correria de fim

Já não sei fixar os ensejos pois até esses as nuvens me levaram e amarrotaram num céu denso de cinzento e breu

Mas ainda sei as cores quentes dos poentes e ainda oiço a melodia em acordes de um piano em forma de rio ou de saudade que guardei além de mim.
.
© Piedade Araujo Sol Setembro 2011
Foto: Shawrus

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Em ti


Em ti
Existem as palavras inventadas
E plantadas nos silêncios
Dos olhares que trocamos
Na calada das planícies
Que se estendem pachorrentas
.

Em ti
Existe o abismo de um corpo
De um passáro em fuga
Onde me atiro desnuda
Afundando meus espasmos
Na vertigem da queda inesperada
.
Em ti
Existe o mel
Quando os teus olhos me olham
E as tuas mãos navegam à deriva
Quanto o teu corpo se encaixa
Nas curvas latentes
do desejo envolto em chamas.

.
© Piedade Araujo Sol 2011-09-06
Autor: m