terça-feira, 24 de novembro de 2015

palavras

Christine Ellger

lanço palavras para o papel, para não sacrificar a minha memória
não sei se um dia alguém fará uso delas
quero crer que sim, pois se assim não for,
elas não terão um eco, serão apenas palavras  semeadas, e que ninguém colheu
seus frutos
e
elas
até podem ser canção
fado
ou o voo do sonho a esvoaçar numa manhã de outono
com elas
ao longe invento uma música
inebriante nas teclas de um piano
cada palavra entornada terá um destino
e em cada palavra
há uma ponte que nos leva
e que nos volta a trazer.
.
©Piedade Araújo Sol 2015-11-23

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Abismos


Brooke Shaden

A noite trespassa um abismo
onde a luz inexistente, desfaleceu
com um leve torpor
espancado na separação do dia.

Num lento terminar
a sombra acelera este colapso
que, violentamente desencadeia
a metamorfose do fogo na tarde morta.

E no renascer da noite com seu véu
cor de azeviche_______ou breu
escorregando, lentamente e no abismo,
existem apenas líquenes, e vou caindo.

Desprotegida,
sem voz,
sem sonhos, sem cores
caindo______como um pássaro ferido.

©Piedade Araújo Sol 2015-11-16

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Poema Tatuado



Choveu!
Lá fora na praça inundada,crescem palavras lavadas, cheia de solidão e descrença na utopia de um sonho.
Talvez que eu a queira ritmar e com elas tatuar o poema.
As palavras ainda me dizem algo embora muitas andem por aí extraviadas e sem destino certo.
Num vazio de discrepâncias, semeiam cinzentos onde só a cor devia existir.
E que importa se casualmente, teimo em escrever palavras que depois se deslaçam do real e apenas ficam garatujos lembrando searas de girassóis. Não as de Van Gogh.
Palavras que lembram sombras.
Impregnadas de utopias azuis que se transformem em águas
Entornadas no mar e assim condensam o seu sal
Palavras a lembrar as pedras
E antes que as perca deixo-as no poema
Um poema tatuado a lembrar ventos
E quiçá
A prolongar encontros fortuitos nos dedos do poeta
Poeta
Saltimbanco de sonhos e letras e chuvas lançadas ao relento.

©Piedade Araújo Sol 2015-11-09

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Tanto faz!

Saul Landell
Ascende à escarpa mais alta que encontrares e grita bem alto o meu nome,
soletra as silabas e deixa o vento e o eco as levar,
para o mar, e quando desceres,
deixa que eu te olhe
assim, quieta e totalmente indefesa
deixa que o meu nome morra na tua boca,
para voltar a emergir quando te for corpo
labareda e  saliva
em cores e lugares (re) inventados,
Tanto faz se faz frio e se o mar está revolto
Tanto faz!
© Piedade Araújo Sol 2015-11-02