terça-feira, 29 de novembro de 2022

Onde o mar se confunde com a cidade ____ e a cidade com o mar

 

Venho de um local onde a solidão,
fazia comunhão com o entardecer,
e onde as fábulas tinham razão de subsistir,
para a partilha dos ruídos e das vozes imaginativas,
pelo meu entendimento de criança.

Quando a madrugada se declarava,
e a luz resplandecia crua e bela,
por vezes os pássaros esvoaçavam em círculos de exaltações,
e eu olhava deslumbrada para todo aquele tráfego,
e em meu cérebro um esboço se compunha em minha mente.

Eu não tenho cadeias na voz, e por vezes sufoco no tempo,
não tenho pedras no coração, apenas batimentos acelerados,
quando o passado ressurge sem ser convocado,
e meu olfacto sente o odor das gardénias que a mãe tinha no jardim da casa grande.

Onde o mar se confunde com a cidade ___ e a cidade com o mar.

©Piedade Araújo Sol 2022-12-28
Imagem : Al Jardine

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terça-feira, 22 de novembro de 2022

Motivo sem nexo ___nem nó

Se a raiva desfalece ____E até a mágoa se esquece
Porque é que por vezes ____ O amor prevalece
não morre e até cresce.


Na metade que fica ____ sem encaixe
porque é o tempo um aliado _____e a outra metade
sem qualquer uso _____um carrasco disfarçado.


 Um nó que não existe _____ mas algo que persiste _____
na solidão ______ que faz ____ uma metade sem voz.


Resta sempre _____  as palavras harmoniosas, em sigilos
e a poesia que até pode ser declamada.

Autor : ©Piedade Araújo Sol 2022-11-20
Imagem : Kindra Nikole


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terça-feira, 15 de novembro de 2022

Confidência


No tempo em que eu desenhava,
no meu desenho,
por embirração ou falta de talento,
escrevi a palavra Poesia,
e desordenadamente as letras do alfabeto.

No tempo em que eu aprendia,
eu via pelos olhares com quem me cruzava,
no dia-a-dia que alguns pareciam vazios,
mas conseguiam traduzir melodias,
que tanto sorriam amores,
como outras vezes dores, apenas e só dores.

No tempo em que eu guardava os desenhos,
dentro do baú que existia nas águas-furtadas,
as tintas o cavalete os pincéis,
e todas os outros apetrechos,
num dia era tudo amor, como podia alterar e passar a ser desamor.

Um dia o Mestre disse-me,
com a sua sabedoria e a sua humildade,
os teus desenhos têm alma,
são inocentes,
são fogo e gelo,
são também bocados de irritação,
ainda lhe faltam técnica,
um dia ganham asas.

Foi no tempo em que,
o desenho ficou hibernado,
para todo o sempre.

Mestre
Os meus desenhos nunca ganharam asas,
um dia foram todos absorvidos pelas chamas,
até só restar um monte disforme de cinzas,
e sim, ganharam asas e ficaram a planar pelo céu …

© Piedade Araújo Sol 2022-11-14
Imagem : Ilya Kisaradov

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terça-feira, 8 de novembro de 2022

a vida anda por aí

a vida anda por aí
rodopia
dança
cai
e levanta


a mentira dá a mão à verdade
o amor ao desamor
o ódio à indiferença
a vida anda numa ciranda
e agita tempestades
e o mar .... ali a olhar
a vida a andar.

© Piedade Araújo Sol 2022-11-04
Imagem : Amy Haslehurst
 Inspirado aqui http://homemplastico.blogspot.com/

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quarta-feira, 2 de novembro de 2022

do outono


do outono
retenho a sombra das tardes frias
e no final das aulas
os gestos que fazia para aquecer
as minhas mãos tão pequenas
tão franzinas
brancas como a neve .

retenho a memória dos nomes
que os ventos me trazem
das amigas que nunca mais vi
que nas encruzilhadas da vida
partiram, e nas partidas as perdi
e me perderam a mim.

mas, trago ainda o esplendor
das palavras que nessa altura escrevi
que hoje ainda significam o que redigi
e que ficaram perdidas no tempo
que correu desatinado
em seu relógio lunar.

e no gesto tenho o mar
a ensinar-me a lonjura das memórias .

©Piedade Araújo Sol 2022-10-29
Imagem : andrea hubner

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