terça-feira, 28 de julho de 2009

Sei


Sei de tardes assassinadas pela noite,
e de manhãs atropelando o dia,
que galopavam a trote de magia.

Sei de castelos que visitei,
das ameias previsíveis,
e do sol nos olhos embevecidos.

Sei das linhas do teu corpo, perfeitas,
de lençóis de linho da terra,
cheirando a alfazema.

Sei e nem sei se sei.
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Foto:chudzyy

terça-feira, 21 de julho de 2009

Barco de Papel


Os teus olhos,
onde o brilho com reflexos
das águas geladas e cristalinas
com as cores do arco-íris
repousa paciente,
lembram-me os fiordes da Noruega.

E a calidez dos teus olhos,
derretendo todos os icebergs dos meus,
adentra-se-me irreversível.

Ancorada num derradeiro porto,
de onde decifro o próximo destino,
colho os teus remos,
num brinde
à memória inesgotável de afectos e,
em noites de insónia,
olho a saudade contigo no cais à luz da lua.

Iço as velas nessas vigílias e,
com as mãos cobertas de ti,
bebo a luz que ainda tenho dos teus olhos
e voo para ti num barco de papel.

Foto:zuan_carreno

terça-feira, 14 de julho de 2009

a tela do poema


pintando papoilas rubras, desbravamos
a tarde nas planícies, prenhes de terra ávida
a pedir sementes na carência
de um dilúvio que tardava no tempo.

fomos aprendizes e descobrimos telas,
esquecidas, em quadros suspensos
nos espaços vazios de olhos,
ao vermos sentimentos saídos de nós.

na preguiça da tarde, estremecemos
e desvendamos, fugindo, manuscritos
em alvoradas cruas, como se fôssemos
balas perdidas de algum terrorista.

porém, um mar de ondas serenas
inundou a nossa pele e, afogados
na indolência do desejo estilhaçado,
fomos dois corpos num poema,
imortalizados nus na tela do pintor.

e, suspensos num quadro, estamos
algures num museu de uma cidade…
Tela:Margusta

terça-feira, 7 de julho de 2009

a fábula dos sentires


as perguntas desnecessárias evitam-se. nunca te perguntei quem eras! porque eu sempre soube precisamente quem eras. e quando te disse que te amava. eu sabia que te amava como acho que tu me amavas. e quando entre nós só havia silencio, ele era pleno de cumplicidade e eu sei que morava em ti e tu em mim. posso nem saber quem és, mas sei ler nos teus olhos os mistérios que encerras, as mágoas e os deleites, por isso nunca te vou perguntar de onde vens e para onde vais, porque mesmo que não digas eu sei que vens dum país onde o sol se derrama e te acaricia o corpo moreno. e quando vais sei que te perdes no mar que te seduz e te leva a sonhar com o meu mundo de enternecimento e onde fazes de conta que eu sou uma protagonista de uma fábula onde os animais ainda falam…
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Foto:Elena Dodina