terça-feira, 26 de maio de 2015

Podias

Mariska  karto

Podias sempre rejeitar ,
essa loucura ríspida,
a infiltrar-se nos espelhos quebrados,
que se estendem ao luar,
na casa abandonada, no cimo do monte,
onde a madeira corroída do chão,
parece gemer dorida e enlouquecida.
Podias desviar o olhar,
e imaginar só  coisas belas.
A hera tomou conta das paredes,
e do telhado em abandono,
espreita um abismo que se desmorona,
em cada gesto de memória presente,
no olhar dolente e no meio dessa loucura ,
inebriada e entorpecida numa fresta insondável,
e num filamento de luz.
Podias imaginar a bonança,
em meio da tempestade.
 A brisa indiscreta,
voluteia em jeito alucinado,
por entre as tábuas do chão quase,
sem chão, apenas folhas amarelecidas,
e a cama em dossel que já foi leito de alguém,
jaz com resquícios de uma reminiscência inacabada,
e de um sonho agonizante.
Podias  esquecer tudo , mas
apenas te apetece voar através do azul.

©Piedade Araújo Sol 2015-05-25

terça-feira, 19 de maio de 2015

Percursos



Para Nini Pais
       Despontaste da noite, com a limpidez do dia
a submergir a madrugada ainda escassa de luz,
com reflexos ao longe e memórias espalhadas,
de tempos idos e cheiros longínquos,
entranhados na pele.
Sorveste a paz e com a cara levantada,
lavada das impurezas, e com a  alma em catarse,
ouviste o eco do vento,
e sentiste o  cheiro da terra,
e a saudade atenuou um pingo de inquietação.
Na tua frente vislumbras um espelho raso de silêncios,
enquanto balbucias baixinho uma canção,
para quebrar  esse arrepio  que se criou,
em partículas desordenadas de uma saudade que escondes,
no coração, e que nem o espelho traduz.
Extenuada das andanças da vida,
sabes que é tempo de bonança,
enquanto ajeitas as mãos prenhes de ternura,
que irás distribuir equitativamente,
com outras mãos entre as tuas,
como uma dádiva do destino.


©Piedade Araújo Sol 2015-05-15

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terça-feira, 12 de maio de 2015

Guardei o eco do teu nome


Guardei o eco do teu nome,
no silêncio que se criou,
no húmus da terra de onde brotavam as rosas,
que eram sempre podadas em Janeiro.
No silêncio tive medo de o olvidar,
até deixei de ouvir música, para apenas ouvir
o canto dos melros, que me acentuavam
a sonoridade do nome – o teu.
O tempo correu célere e nos tombos
da vida, na dificuldade de embalar
esse eco em mim, decidi e tatuei uma rosa
e o teu nome na minha mão direita.
deixa que em cada flor eu leia teu nome,
e,
que as flores nasçam nos meus lábios
ao alvorecer e que durem até o anoitecer.

©Piedade Araújo Sol 2015-05-08

terça-feira, 5 de maio de 2015

Caindo

Caindo,
a mão inerte ao longo do corpo,
retendo nada, no fundo dos bolsos
no silêncio sustentado,
pela ausência das palavras.
Caindo somente,
débil e superficialmente morna,
perfumada e vulnerável.
Na penumbra da tarde,
caindo apenas.

©Piedade Araújo Sol 2015-05-04