terça-feira, 29 de julho de 2008

...sei

...sei que perdi algures esse sonho que embarcou comigo, quando as alvoradas eram gélidas, e quando eu tecia essa manta de ilusões, com as estrelas que fiz devaneios e com a lua que fiz luz.

...mas hoje ainda sinto o aroma das magnólias impregnado nas narinas, que entornam traços numa Cassiopeia, onde nos meus olhos as cores se tornam esbatidas e se confundem ao longe na fluidez das pontes e do rio que ainda e sempre desliza para o mar…
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Foto hochi1

terça-feira, 22 de julho de 2008

regressa vivo das ondas

O teu nome mesmo na areia
será sempre o teu nome.



Escrito na areia,
será tudo apagado
quando as ondas vierem beijar a praia.



O teu nome é tudo o que fica no cais
dos labirintos do meu desejo,
fixado na ebulição permanente de sons e memórias.

Porfia na lembrança
porque um dia só restarão névoas
transfiguradas em ténues recordações opacas e sem cor.

O teu nome é nuvem que se afasta de mim com o vento,
é chuva que caiu na areia quente
da minha praia sedenta neste final de tarde....

O meu nome é só o meu nome.
Já parti…

O teu nome não é só o teu nome… é o meu farol.
Regressa vivo das ondas meu amor.

terça-feira, 15 de julho de 2008

desencontros

Pela vigésima vez ela relê a sms no telemóvel:
.“Faço escala em Lisboa, vai buscar-me, dá tempo para jantarmos tenho saudades tuas”.
Um arrepio percorre-lhe o corpo. Depois de tanto tempo, ele ali está, distante, impessoal, a remexer feridas ocultas, antigas e ainda não totalmente cicatrizadas.
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Amanhã vai poder estar com ele, falar-lhe, beber as suas palavras, percorrer com o olhar a sua pele morena, mitigar as saudades que a definham pouco a pouco.

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Nem se dá conta que alguém entrou na sala e só acorda do seu torpor quando uma voz agitada e ansiosa lhe diz:
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- Prepare-se, tem uma reunião de emergência, o projecto em que trabalhava foi aprovado e amanhã vai para Estocolmo.
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Fica estupefacta e nem um pingo de sangue lhe parece correr nas veias.
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Que projecto? Era um trabalho em parceria. É certo que era ela a mentora, mas, porquê ela? Refaz-se rapidamente e questiona, com um certo receio na voz que lhe sai trémula:
.- Por que não vai a colega?
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-Foi afastada! Chegaram à conclusão que ficará melhor nas suas mãos.
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Contemporiza e sai para a sala de reuniões.

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Faço escala em Lisboa, vai buscar-me, dá tempo para jantarmos tenho saudades tuas”
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O vazio toma conta dela. Entra na sala de reuniões com o dossier e os documentos e começa a reunião.
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Vacila nalguns pontos mais importantes, mas, sempre assertiva, consegue obter resultados satisfatórios. Os dados estão lançados. Os resultados também. Ela foi promovida.
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Estende a mão e agradece os parabéns pela promoção há tanto tempo merecida. Amanhã vai para a Suécia. Aborrecida, pensa como o destino é traiçoeiro para com ela. Porquê amanhã? Por que não ia depois…?

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Volta à sala para os últimos detalhes. Não consegue reter as lágrimas que lhe caem furtivas pelo rosto, e que se apressa a limpar..
Amanhã ele vem e ela vai….depois de tanto tempo sem o ver…
.Relê pela última vez a mensagem:
.“Faço escala em Lisboa, vai buscar-me, dá tempo para jantarmos tenho saudades tuas
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Num gesto resoluto, apaga-a. Nunca a recebeu, foi um sonho…! São horas de sair, amanhã vai para Estocolmo….


Piedade  Araújo Sol

terça-feira, 8 de julho de 2008

imaginação

imagino-te sonho
em espirais de sargaço
dentro de mim,
eu em ti...

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imagino-te raiz,
fruto, seiva,
campos de girassóis,
em mim...

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imagino-te olhar,
mãos náufragas,
pele em desalinho,
gemidos abafados em ti...

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imagino-te espelho
em que me revejo
em ti, em mim,
em nós… por nós....

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imagino-te grito
rouco, solto, na lassidão
do momento final
feito eco de paixão...

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foto:blackpixie




terça-feira, 1 de julho de 2008

...

como um saltimbanco, ando de cidade em cidade. persisto na fuga de tudo e a nova cidade é sempre igual à anterior. renego o amanhã e não quero o hoje que agora tenho. estou cansada de andar de cidade em cidade. quero ser novamente livre, quero despedaçar as cadeias. ah! estas grades que me agrilhoam. quero estar lá longe, bem longe, junto ao riacho que passava perto da casa de pedra da minha infância. mas disseram-me que ele também já não existe mais. ando de cidade em cidade como um saltimbanco, à procura já nem sei eu própria de quê…

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