terça-feira, 28 de agosto de 2012

Medos



Houve um tempo, que
sucumbi ao medo latente
que descortinei nos recantos
recônditos, de trilhos que
nem sempre palmilhei, como
mistura de papéis amolecidos
e bafientos pelo tempo.

Mas o tempo, também
me ensinou a reerguer e descobrir
ilusões dissimuladas, em
medos que se dissolviam
pela força do próprio medo
mudo e febricitante.

Já não sinto medo,
porque cada dia é um novo dia
e é o no presente que se faz o futuro
em liberdade, e liberto de medos.



© Piedade Araújo Sol  2012-08-28

FotoFedaykin

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Memórias dispersas


Às vezes (muitas) sinto saudades do tempo em que nos tínhamos. Tu, com as mãos caídas no regaço, a idealizares palavras com tempo, que já se esvaziava no teu tempo, no términus de outro tempo (agora) sem tempo.


 Eu sei que algumas palavras (muitas) ficaram por dizer, sei que a tua face ocultava (por vezes) o grito das gaivotas e o desassossego das marés, mas tu entendias a ternura das terras e sabias como ninguém o tempo das sementeiras nos terrenos que se alongavam defronte dos teus olhos. E, quando falavas da luz de Lisboa, os teus olhos transmitiam réstias de névoas de uma nostalgia hospedada em encruzilhadas de saudades, e de abraços e beijos que ficaram por celebrar. 

Já não nos temos, e os meus passos, a recusar cada vez mais memórias, já não me transportam à casa grande que a planície ainda tem. 

Passaram alguns anos, mas ainda persiste em mim a tua mágoa de não teres visto Alcântara uma última vez, antes do teu olhar doce e sereno se perder para sempre no azul dos céus e nos enigmas da noite que se abateu para sempre em ti. 

E, de nós, só nós sabemos. 

Obs.: Em memória da minha mãe, hoje dia do seu aniversário

© Piedade Araújo Sol  2012-08-21

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Amanhecer



Logo que o dia assomou, inconstante e 
pardacento, com nuvens tresmalhadas
a abarrotar o céu
saí de casa – a casa onde por vezes habito,
entrei pela rua a querer acossar o chilrear dos pássaros,
que desinquietos e indiferentes ao dia
descansavam nos galhos das árvores da praça.

E, sem destino traçado, estou defronte do mar
junto da praia a olhar as areias embrulhadas,
onde repousavam gaivotas em completa consonância.
Não tenho identidade, estou apenas a escrever o dia
 defronte duma pedra. E quando me olho
constato que estou apenas com uma camisola de algodão,
e meus pés órfãos de sandálias…
.
.© Piedade Araújo Sol  2012-08-14

Foto : carton_king

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Olhos de Lince



Tens uns olhos de lince e um perfume
com sabor a musgo, plantas silvestres
e mirtilos, e eu perco-me em labirintos
com rumos intrincados para chegar até ti.

A tua face recorda retábulos de anjos
mas também me faz oscilar, enigmas
de algum ícone extraviado
em longínquos lugares enigmáticos.

És por vezes um barco ao longe
a velejar com vela içada
sobre o mar em sabor de vento forte.

E por ti fico impetuosa e perdida
neste outro lado do cais, contemplando
as águas salgadas e com ternuras de sóis.



© Piedade Araújo Sol  2012-08-07