terça-feira, 27 de setembro de 2022

Perguntas ao Vento


Da janela do meu quarto olho a praia. Está vento. Aqui está sempre vento! Tenho tantas perguntas sem resposta. Por vezes queria fazer as perguntas que me queimam os neurónios. O telemóvel vibra. Olho-o de soslaio, está em sinal de reunião. Numero privado. Nunca atendo números privados. Não me apetece. E as perguntas ficam sempre por fazer. Ficam sem respostas. Não me apetece fazer nada. Nem comer. Nem me levantar. Estou morta. Morri com uma overdose de tédio. Soergo-me. Olho a praia da minha janela. Está vento. É isso! Levanto-me! Coloco o telemóvel dentro da gaveta e visto-me rapidamente com a roupa que estava na cadeira. Não a conheço, acho que nem é a minha. Amarro o cabelo num rabo-de-cavalo e saio para a tarde e para a praia que me espera. Fiz as perguntas ao vento e não obtive respostas…

©Piedade Araújo Sol 2008-09-23
Imagem : duong quoc dinh

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terça-feira, 20 de setembro de 2022

É à noite

É à noite quando tudo repousa,
que eu observo com o olhar incendiado,
de carinho,
as estrelas pelas frestas da janela,
e no silêncio que o momento impõe,
medito sem sons ou ecos,
as palavras engasgadas na planura dos lençóis,
e o desequilíbrio do dia é apenas um apêndice.

Porque a noite é aconchegante,
e a fragilidade é meramente,
um estado habitado pelas aves nocturnas.

E envelhecemos um pouco mais,
na penumbra e na reminiscência,
e sonhamos os sonhos já sonhados,
os amores partilhados,
os amores esquecidos,
e que ninguém me pergunte mais nada,
eu escolhi o recolhimento.

E fico com as estrelas,
que iluminam o meu silêncio,
e o meu anoitecer

©Piedade Araújo Sol 2022-09-11
Imagem :Victoria Soderstrom 

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terça-feira, 13 de setembro de 2022

Paradoxo (Déjà vu)


É sempre nas madrugadas que as recordações me assaltam o cérebro, povoando-me de recantos e locais onde nunca estive, nem estarei e que conheço tão bem. É contraproducente, e no entanto sinto que tudo aconteceu, pois as memórias estão aqui intactas, e não se esfumaram com o tempo.Tento pintar os locais, mas as tintas espalham-se na tela, e não consigo nem uma paleta de cores que façam sentido, pois não consigo retratar a beleza que guardo aqui na retina dos meus olhos.
É impensável, já tentei de todas as maneiras e o caixote do lixo encontra-se ali atulhado de papeis com riscos, rabiscos, borrões e nada de concreto visível ou palpável.
Amarfanho os esboços e atormentada fecho os olhos, tentando neste gesto possante prolongar as recordações para um recanto clandestino do meu cérebro.

©Piedade Araújo Sol 2004-08-31
Imagem : Gian Enid

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terça-feira, 6 de setembro de 2022

Aquela tarde...


Aquela tarde existiu, num dia cheio de sol
com cheiro de verão, e no corpo
água salgada com areia fina.

Mas _____as palavras que pronunciaste
escorria-as para dentro do ralo do chuveiro da praia
foram_____ junto com as areias coladas nos meus pés.

 ........................

Nesta tarde
o chuveiro junto da saída da praia
já não existe_____ o ralo também não.

E as palavras fizerem um eco_____ seco e frio
a cortarem a minha pele causando arrepio
hoje _____em pleno dia de verão.

Sem querer ________uma outra tarde existiu
e reapareceu em lembranças
dentro _____ e fora de mim.


©Piedade Araújo Sol 2022-08-29
Imagem : Maria Kaimaiki

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