segunda-feira, 31 de julho de 2006

Sangue Novo

“ O mundo é dos homens as mulheres só são donas dele enquanto são
novas”
Jacqueline Susan
In
O Vale das Bonecas


Hoje acordei a pensar que talvez a escritora não tivesse razão quando escreveu esta frase ou então esqueceu-se de acrescentar que além de novas tinham de ser também bonitas.

Há frases tipo chavão, em que se diz “trabalho igual salário igual” independentemente do sexo, e eu acho que tudo isso são tretas.

As mulheres(que me perdoam os homens) para terem um lugar de chefia, têm que ser muito melhores do que eles, produzir mais, se esforçar mais, e mais. Às vezes para subirmos e alcançar uma carreira de sucesso, deixamos sem nos aperceber, e para segundo plano, tantas outras coisas tão mais importantes. A família, os amigos nós próprias e que acontece? Depois de tantos dissabores e sacrifícios que se passa ?

Eu pensava que depois de conquistar posição na hierarquia era um dado ganho, adquirido e vitalício. Puro engano. Pode ser mudado a qualquer momento, é tão fácil. É só tirar a placa dourado do gabinete, e substituir o nome. É só arrumar a tralha do anterior “inquilino” dentro duma caixa e rua!!

E a lengalenga é sempre igual. Redução de custos. Extinção de cargo, etc., etc.,. e os anos de luta , vão ali dentro duma caixa, às vezes cheirando a mofo.

É preciso renovar os cargos. Sangue novo, dizem os entendidos, e os antigos que até nem são tão velhos como isso, não conseguem aceitar a situação.

Depois fazem-se estatísticas e chega-se à conclusão que nunca houve tanta gente a sofrer de depressão, a se drogar, a marcar consulta no psiquiatra ou no psicólogo.

Vou ficar por aqui...

sábado, 29 de julho de 2006

Vamos ver o Tejo




Leva-me a palmilhar
Os esconderijos de Lisboa
Um torpor sem som
confunde meu corpo esvaziado
onde a saudade me aniquila…
Deixa que ampare meu braço
em ti, e deixa-me soltar meu olhar….
Lisboa é uma voz.A tua voz
imaginária que eu queria
sussurrando em meu ouvidos
Breves palavras que sei
omitidas e perdidas nas águas, mas
ainda espero te ouvir dizer, um dia :
Vamos ver o Tejo!

sexta-feira, 28 de julho de 2006

Carta...para a paz


Podia deixar-me ir ao sabor do acaso, mas não consigo. Sinto-me como se fosse uma árvore infecunda e cansada, quem nem sombra sequer dá. Tudo é triste deprimente, como esta névoa que se instala entre mim e o mundo em que vivo. Vivo, ou finjo viver.

Estou cansada de ver guerras, gente a sofrer, a morrer sem sequer ter vivido ainda, e sobre mim, acho que tenho séculos de tristeza, que se transmutam em espectros que me provocam pesadelos.

Tenho medo, medo de me sentir por vezes feliz, de me entusiasmar pela vida, enquanto vejo a vida não ser vida para outros, outros países, outras raças, outros eus.

Podia deixar-me ir ao sabor dos sonhos, e afinal eles nem sonhos podem ter, nem sabem o que é viver sem guerra.

Estou triste, triste, e nem sei porque sinto medo, se em mim tudo é árido quando leio o que leio e não concordo...

quinta-feira, 27 de julho de 2006

Pergunto

Pergunto. Mas sei que as perguntas
perdem-se, ninguém está aqui
para as ouvir. E o que fica entre mim
e o vazio
é tão-somente o silêncio
das perguntas.

Pergunto. Mas de que me servem
as perguntas? se nunca há respostas
se nunca as dirijo a quem devia
se tudo flutua
no vácuo

Pergunto...

Já não!

Em mim existem
as respostas possíveis
eu é que não as quero
ouvir...

quarta-feira, 26 de julho de 2006

Um dia

Um dia, não muito longínquo
de um outro dia
abrirei meus segredos, que tenho
arrecadados por aí
inventariados à espera que
eu mesma os desemaranho...

Será num dia sem data
nem hora marcada
será só mais um dia...

Hoje não!
Ainda não é a hora
nem o dia...

domingo, 23 de julho de 2006

Essa noite

Essa noite
é para relembrar

Foi a noite
em que os pirilampos
iluminaram o caminho

Eu calçava sandálias
e a areia
magoava meus pés

Essa noite ficou
gravada na foto...

quinta-feira, 20 de julho de 2006

Amanhã



Escrevo. Mais um dia, sem nada de especial a assinalar.

Amanhã será diferente! Talvez, amanhã eu me dispa de todos os preconceitos e tento me transformar em quem não sou.


Talvez afivele uma máscara, para exibir um grande sorriso, mesmo quando não me apeteça, e consiga dizer a mim própria, que me mascarei com as cores do arco-íris e que o dia será uma mescla de cores e sentires.

Amanhã, vestirei o meu vestido branco, e nos meus cabelos colocarei uma coroa de flores, com todos os aromas imaginários de todas as flores que existem.

Amanhã será diferente… e ao cair da noite, terei, algo especial, para escrever no meu diário de capa azul, que guardo nas gavetas abertas da minha imaginação sem limites.

As gavetas estão sempre abertas, pois há muito tempo perdi as chaves que as poderiam trancar…

quarta-feira, 19 de julho de 2006

Quimeras



Eu tomei conta dos sonhos
mas fugi...

Porque não podia suster
o peso
dessas quimeras
por isso
sei que me engano
e não quero compreender
o que se pode entender
duma forma transparente
e por vezes tão opaca

Os sonhos tomaram
conta de mim...

segunda-feira, 17 de julho de 2006

Mil sonhos


Foi noutro país
Como poderia não ter sido

Mil sonhos
Insónias misturadas
Ausências
Ou talvez não....

E iludi-me
E teimei
Sentada na soleira do tempo
Que passava inexoravelmente

Mil sonhos
Ou talvez não...

Pesadelos nas encostas
Das noites perdidas
Ausente de mim...

Mil sonhos
Sem testemunhas
Nem registos
Nem cúmplices...

Mil sonhos
Ou talvez não...

Miscelânea de sílabas
Virgulas
E ponto final...

Foi noutro país
Como poderia não ter sido...

sexta-feira, 14 de julho de 2006

É Julho!

É Julho!
Que importa que se renove mais um mês
O mês de todos os meus idílios....

Esta sensação de paz
Quando me sento
Aqui a contemplar as águas...

Reinvento-te
Escrevo
E as minhas palavras
Já nada valem...

Talvez,nunca tiveram nexo algum
Nem sei porque me repito
E desenho círculos no ar...

Que deslizam
secretos
a gotejar
ternuras

para o seio das águas
que correm serenas
como eu....

quinta-feira, 13 de julho de 2006

Carta ao lugar das águas III (última)

Li algures que a noite é boa conselheira, não sei se é ou não, isso já não tem qualquer importância, mas esta noite tomei a minha decisão.

Não importa o que se passará depois, já nada importa…

Deixo esta carta para ti e para mim. Para ti que não estás aqui, e para mim que estou aqui, e que dentro de pouco tempo estarei aí junto do rio e de ti…

Hoje descerei pela última vez ao lugar das águas. Tenho de ir, já nada me prende, já nada me retêm aqui.

Vou sem ti.

Mas por mim que me quero junto de ti…

segunda-feira, 10 de julho de 2006

Carta ao lugar das águas II



Ontem andei todo o dia contigo no pensamento. Não sei porquê, mas há dias em que tentamos bloquear factos passados e não conseguimos.

Hoje algo me imperou a descer ao lugar das águas. Quebrei o ritual (hoje não é dia 08), mas sem razão aparente e quase automaticamente, quando me dei conta estava ali na margem do Tejo, vestido com a mesma roupa que tinha, quando me disseste:

-Vamos ver o Tejo…

Nem sou de ligar muito ao que visto, mas recordo-me perfeitamente que nesse dia fazia um frio cortante, e que usava o pólo claro, com a camisola preta as calças de ganga azul e o sobretudo preto com a gola levantada. Sem me dar conta estava ali, na margem do Tejo a olhar absorto, para as suas águas. Acho que pela primeira vez entendi o fascínio que o rio exercia em ti.

Olhei com melancolia as águas e pareceu-me que elas transmitiam um pouco a cor dos teus olhos, quando estavas triste, um misto de cinzento, e verde.

Abri o porta-luvas do carro e tirei a boina que tinhas deixado esquecida, não sei mas num ímpeto atirei-a para as águas e ela ficou ali a boiar ante meus olhos perplexos e minhas mãos vazias.

Vazias das tuas.

Senti desejo de entrelaçar as minhas nas tuas mãos, e sei que não é possível, nem nunca mais será.

Hoje. Estou aqui sem ti e a lembrar que o Tejo continuará ali, tu não

sábado, 8 de julho de 2006

Carta para o lugar das águas

Hoje desci ao lugar das águas. É manhã cedo e faço o mesmo ritual no dia 8 de cada mês, desde que te perdi.

Vou vaguear nas margens do Tejo e atiro para as águas uma rosa amarela. Era a tua flor preferida.

Hoje desci ao lugar das águas. Recordo sempre que um dia me disseste:

-Vamos ver o Tejo.

Não fui, e nem te dei atenção. Mas tu foste só…


Ainda hoje não entendi essa fixação que tinhas pelo rio, mas tinhas. Tanta que o escolheste para a tua última morada. Mas também agora já nada há para entender, porque tu já não estás aqui, na margem. Estás dentro dele.

Hoje desci ao lugar das águas, meus olhos olham o rio e sinto pena de nunca mais te poder ouvir dizer

-Vamos ver o Tejo!

Hoje desci ao lugar das águas, ou das minhas e das tuas lágrimas, que já não são lágrimas, porque lá onde estejas só deve haver sorrisos, e algo me diz que o teu sorriso deve ser o mais belo de todos.

Hoje desci ao lugar das águas, sem ti, mas por ti, e mesmo que não me oiças digo baixinho.

-Anda daí, vamos ver o Tejo!

Funchal, 08 de Fevereiro de 2006


(Esta carta é a primeira de uma serie de três que já foram publicadas no Cartas de Marinhar)

segunda-feira, 3 de julho de 2006

Transparências




Olho para dentro de ti, sem que percebas.És forte, e ao mesmo tempo tão vulnerável. Em ti existem sempre duas pessoas. Sempre!

Por vezes sei que me magoas, magoando-te. Contradição diria. Pois persisto sempre a ter um sonho contigo, mesmo sabendo que é isso mesmo, e só isso. Um sonho.

Olho para dentro de ti, e tu nem sabes que eu sei, a posição exacta que dás à tua mão ao pegar no copo da água que bebes. O trejeito que fazes quando algo não te agrada, a expressão facial que exprimes quando te zangas, a cor metamorfoseada dos teus olhos quanto estão triste ou alegres.

Olho para dentro de ti, e sei que por vezes sou ainda mais impulsiva que tu, e que por vezes és ainda mais imprevisível do que eu ou vice-versa.

Olho para dentro de ti e afinal tu nem sonhas, como és tão transparente para mim….

domingo, 2 de julho de 2006

Dentro de mim tenho a ternura



dentro de mim trago o enternecimento
dos dias que correm serenos
e monótonos, e que me trazem
impassibilidade e paz


dentro de mim
tenho o verão de todos os anos
que se passaram e dos que ainda
nem chegarem, e que eu espero sem pressas

deparei com uma tarde silenciosa
em que sonhava com as areias
da praia dourada, que o mar acarinhava
ora calmo ora violento

e assim fiquei a divagar
meu olhar nas ondas do mar
que em constante contradança
me pareciam sorrir

dentro de mim trago todas as praias
e as areias que posso imaginar
em que desenho o nome do céu
e a água teima em apagar...