terça-feira, 26 de julho de 2011

Testamento canino



Não procures o silêncio, nas brumas da alma, se apenas chegam murmúrios de vento breve a te enaltecerem a vista – turva.

Por vezes o escuro - nosso - é a paz ou o refúgio de outrem, por vezes uma partida para o lugar dos limbos ou do descanso dos deuses, por vezes em forma – nuvem - de cão a pairar na nossa sede de esperança.
Na  deslembrança , que não será entorpecimento pinta uma tela com cores, as mesmas que fazem desta ausência forçada, ou por vezes , tão-somente, apenas um esgueirar-me para navegar - voar- com as estrelas que agora brilham com mais aconchego.
E fica com a ternura a derramar-se nos teus olhos inundados de saudade e a guiar-te os passos pelos trilhos que um dia partilhamos.
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Nota:Memórias de um cão que partiu e deixou esta mensagem ao dono.
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Foto:kiki12

terça-feira, 19 de julho de 2011

é verão

é verão e a brisa da tarde
medita comigo
nos sonhos mágicos
que forjo calada.

o sabor das romãs – ainda
na boca fechada
é a certeza que existe
na tarde acabada.

e ficou o sabor do beijo
selado
numa viagem de enternecimento
de amor e mistério.
'
Foto:-enoa

terça-feira, 12 de julho de 2011

Abismo

Elas saem
e as romãs caem no regaço
das mulheres
.
São amargas e frias
corre uma geada
como um circulo
de liquidez
.
As mulheres fogem
na noite sem destino
e sem luz
ficam cicatrizes
impregnadas
.
E elas correm
pela noite dentro
à procura de tudo
e de coisa nenhuma.
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Reedição 2005-01-25

terça-feira, 5 de julho de 2011

Vesti-me de organdi

Vesti-me de organdi *
Com bordados de esperança
Coloquei nos meus lábios
O meu mais belo sorriso
E nos ombros um xaile de luz
.
Sempre receptiva ao brilho das estrelas
Nas noites quentes de verão
Esperei sentada na soleira das marés
Aspirando o cheiro da maresia
Infiltrada no meu cabelo ao vento
.
Omiti a fome de amar
A sede no desejo em labaredas
Esqueci o calendário do tempo
Dependurado nos medos da noite
Vela ao vento desfraldada

.
Ninguém soube das lágrimas derramadas
E das algas desmaiadas sobre a areia
Nem do canto das sereias
Em melodias desconhecidas
No eco dos meus búzios
 
Se hoje ainda guardo
O vestido de organdi
E canto a ária da saudade
É porque as estrelas no seu brilho
Ainda esperam por mim
E pelo meu sonho de encantar.
.
Foto:kiki123
* Nota:Organdi, do francês organdi, é a designação de um tecido originário de Urganje, região russa situada no antigo Turquistão, famosa na Idade Média por seu mercado de seda. Na língua portuguesa, passou a denominar uma espécie de musselina, um tecido transparente, mais consistente que a seda, mas igualmente leve, e com um preparo especial, um acabamento engomado que lhe confere uma certa consistência.

O musseline é purgado para retirar toda a goma, e somente depois é tingido enquanto o organdi perde na purga somente 10% da goma (tinto em cru), dai se explica o toque engomado que ele possui.~