terça-feira, 24 de novembro de 2009

Gostava de ser o espelho que te olha



Ainda persiste, onde te disse adeus, aquele terrífico espaço tão lúgubre. Eu nunca digo essa palavra. Mas nesse dia, disse! Fazia frio. Esse adeus não foi definitivo, mas é o mesmo frio que me acompanha desde então. Nunca será definitivo, enquanto um de nós viver.

Respiro, imóvel, o ar da manhã cheia de nevoeiro. Sabes, há vida na laranjeira porque as flores querem desabrochar. Sinto que as pétalas me sobrevoam e os meus cabelos rebeldes esvoaçam numa luxúria alucinada de voos lunáticos. No fundo do poço há águas espantadas, sem patos a nadar, já não existem. O vento, agora, penteia-me no términos de um sono que me avassalou pelas colinas de um tempo embriagado, que me acaricia na leveza em forma de espelhos líquidos, que me percorre numa fracção de tempo esgotado, que me abraça nas asas em que me transporto para além de mim e do (teu) espelho em que te contemplas pelas manhãs.

Gostava de ser o espelho que te olha, logo pela manhã, antes de saíres para o dia agitado. Para de ti guardar os olhares, os cheiros, as cores. Tudo numa miscelânea que tu nem ninguém pode entender.
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Foto:Nutek

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Mas, afinal quem és tu?

Já não sei de mim
Não sei quando chegaste
Se foi a noite passada
Qual ave noctívaga
A me rondares o sonho ou o sono
Se foi na alvorada
Ou ao nascer da noite
Sei que
Deixaste apenas
Meus lençóis em desalinho
E um rio de desejo que
Incendiou as nuvens
E
Em meu auxilio
Os anjos entreolharam-se
Totalmente despidos de pudor
E alucinados, esquecidos
Desprovidos das suas asas
Voaram em círculos
E
Hoje
Só eles sabem de mim

Mas. Afinal quem és tu?
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Foto:Silvia-Ana http://plfoto.com/1982523/zdjecie.html

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Vamos ver o Tejo

Numa simbiose de silhueta incógnita, navego com um braçado de sonhos, onde avivei, com pinceladas enérgicas, todas as cores possíveis do arco-íris com aromas de magnólias, aprontando um cocktail inédito de pensamentos velozes e explosivos.

Cavalgo, pela tarde, o lamento dos rios que levam sempre a sua água para a foz na certeza de um mar de braços abertos, e penso que ninguém se atreveu a perguntar-lhes se eram felizes assim.

Devem ser!

Eu sei que, por vezes, paro e fico absorvida a olhar as águas que sempre me seduziram e, por vezes, omito a razão que me empurra para as suas margens. Nunca me preocupei com isso, pois lembro-me do poeta que dizia:

“ Inútil ir pedir conselhos ao rio”

Quando, sem a querer entender, medito nessa frase, sei que deve ter algum sentido que me transcende.

Mas quando gravito pelas margens, abraço em mim um sorriso e uma certeza. E apetece-me voar. Gritar ao vento.

- Anda daí, vamos ver o Tejo!

terça-feira, 3 de novembro de 2009

em contraluz

Este silêncio que sei´
É Outono
Com sede de sol e luz.
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Respiro sem esforço, um odor de chuva
Que se transformou em mim, e nas sarjetas
Abandonadas.
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Corro (ligeira) pelas ruas (desertas

Com as mãos dependuradas no tempo

E a claridade no olhar.

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E a razão aparente

Porque corro em contraluz

É esta minha pressa de viver.

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E sobre mim cai um fluir
Reclinado de lusco-fusco
Envolto na minha necessidade de fuga.

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Foto:kiki123 http://plfoto.com/1548902/zdjecie.html