terça-feira, 26 de março de 2013

O Poeta



O poeta acordou extenuado e sem cores no olhar.
Não sabia que fazia ali na manhã onde o mar lhe delimitava a visão, e onde ele próprio não tinha lugar para estar.
O poeta nunca se sente bem em lugar algum pensou.
Mas ele não se sentia poeta.
Não sabia  fazer poemas como os poetas, nem casas como os arquitectos.
Não sabia fazer nada.
E então pensou que se fosse poeta plantava uma flor em forma de barco, mesmo em cima de uma onda.
E então o poeta ficou leve e esvoaçou nas cores do arco-íris que se fizeram sentir no olhar .
E nessa noite todos os barcos se transformaram em flores.

© Piedade Araújo Sol  2013-03-21



terça-feira, 19 de março de 2013

Caminhante



Ajeito a máscara
e as roupas que me restringem
Ateio a noite e liberto-me dos espectros
que vejo retratados na penumbra das ruelas.

Tenho um passo ligeiro, quase que atropelo a noite
esboçada no chão molhado e inseguro.
Guardo as mãos no fundo dos bolsos
cheios de sonhos inviscerados,
agarrando-os com firmeza para que não se desprendam,
e se percam nos trilhos que desenho.

E sei que um rio frio me contempla
na ligeireza do ir
E já sem máscara nem pressas
sorrio à madrugada livre
e indiferente
que se alonga sobre mim e
sobre a cidade grande


©Piedade Araújo Sol 2013-03-19



    terça-feira, 12 de março de 2013

    Um mar de aromas


    Um mar de aromas cresce
    enquanto me ofereces o mar
    reflectido nos teu olhos.

    Entre as minhas mãos
    tenho os teus cabelos que entrelaço
    seda macia deslizante entre os dedos.

    Somos grãos de areia enlouquecida
    e regressamos ao país onde as aves repousam
    sem pátria e sem lugar cativo.

    E por entre as dunas
    eu sei que seremos felizes
    olhando o barco que navega.

    E onde nos descobrimos na luxuriante
    sede de corpos que mitigam
    a sua sede.


    © Piedade Araújo Sol 2013-03-12

    terça-feira, 5 de março de 2013

    Inquietude


    Pesa-me esta angústia dos dias disfarçada
    em momentos que não tem dia nem noite
    o destino com as teias
    nos cravos que se agarram e mortificam
    mascaradas de medos
    de sorrisos disfarçados
    indisfarçados na dor de serem dor dissimulada.

    Esta alma ferida
    este sonho desatado
    de instantes coloridos, agora sem alma
    encharcado de mistérios
    papéis.

    Que nem sei entender
    nem quero
    não sei
    não quero
    esta distracção de ser eu
    esta mania de olhar o horizonte e repetir o vazio.

    Que forja o ser
    pesa-me
    este espinho numa rosa fenecida
    porque os cravos já perderam todo o seu aroma.
    .

    © Piedade Araújo Sol 2013-03-04

    sexta-feira, 1 de março de 2013

    No silêncio das cores


    Melodia em cores fortes,
    em pena que esvoaça,
    em alegria  que canta,
    e poesia que flutua,

    num dia inventado por mim.


    © Piedade Araújo Sol 2013-03-01
    foto . Patti