terça-feira, 25 de agosto de 2009

do enigmatico


Junto as peças espalhadas,
como se fosse um puzzle por acabar,
onde reina o caos,
e eu tenho a calma aparente
dispersa nas águas desviadas.

Das mãos que estremecem
no manusear dum processo
em permanente construção
onde tudo são fragmentos
estilhaçados sobre a poeira.

Não sei se reconstruirei
as peças fragmentadas
nem tão pouco
o enigmático
duma estória sem rebato.



Foto:razthaman

terça-feira, 18 de agosto de 2009

não sei do teu nome

Propositadamente,
quis esquecer um nome
(o teu).
.
E ilegíveis letras, em fragmentos enlouquecidos,
inundaram a praça, repleta de árvores
da sumaúma.
.
Teu nome foi sepultado, sob líquenes e pedras.
Algures.
Não o lembro mais!
.
Provavelmente, um dia, os arqueólogos
encontrarão resquícios de meteoritos, que os levarão
a uma pesquisa infindável e sem sucesso aparente.
.
Respiro o ar asfixiado da manhã.
Coloco flores frescas num vaso de terracota,
fronteiro à janela, que dá para a praça.
.
Não sei do teu nome.
.
©Piedade Araújo Sol 

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terça-feira, 11 de agosto de 2009

Em pinceladas de Iman Maleki


Gostava de saber ensinar-te
do voo das gaivotas
a sulcar o céu sob as nuvens
e saber do gosto
da flor do sal.

E, quando no fim da tarde nos sentarmos
na praia molhada, gostava de te falar das areias finas e
do seu singular deslizar
no côncavo das minhas mãos.

Mas eu não tenho a sabedoria dos filósofos
e nem o azul que espreita no céu
despontaria na minha sede de saber
e sequer viria em meu auxílio.

Porque fico a olhar e calo
o voo das gaivotas, que também é o meu
(e o teu)
e escrevo apenas o verde e cinza dos teus olhos
(nos meus)
em pinceladas de um Iman Maleki.*

.

* Nota: Iman Maleki é um artista iraniano nascido em 1976, as suas pinturas impressionam pelo realismo, parecem fotografias. Iman Maleki desde criança gostou de desenho,e aos 15 anos começou a estudar pintura com Morteza Katouzian, maior pintor realista do Irão.


Foto:Sunlight de Iman Maleki

terça-feira, 4 de agosto de 2009

.Filigranas de sol.


Escudada em filigranas de sol, detenho apenas
o olhar sobre a nudez ingénua
da paisagem, em delírios de caminhos
e simbioses de cores.

Na falta do linho, cubro meu corpo com organza (*)
e durmo deitada em pedaços de serapilheira
num chão duro de terra batida.

Meu olhar repousa cativado
até onde a visão, espantada pode
alcançar….

Nota : A Organza é um tecido puro e simples, cuja tecelagem é feita em ponto de tafetá. Possui textura fina e leve, com um acabamento ligeiramente brilhoso.
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