terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

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Natália Drepina
Tenho as mãos cheias de terra
e esta terra não é minha. Não a sinto minha
é do mundo, e por aqui ficará,
e os campos estão áridos,
e escurecem tristes e esquecidos.

Que local é este que não reconheço,
em que instante vim aqui ancorar,
que não me recordo,
mas alguem me chamou,
em canto de pássaro brilhante.

E meu nome ressoou nas colinas,
em eco uníssono,
ou foi apenas impressão minha,
e os meus olhos vagueiam,
e sinto paz em esboços de cor.

As minhas mãos estão limpas,
e a serenidade em toda a sua essência,
diz-me,
que a terra era um símbolo,
num remoinho de sentires.

Não sei nada deste desnorte,
as janelas estão abertas, não as fechei,
tirei as cortinas para melhor ver o dia,
e a porta, essa, apenas está no trinco
podes abrir e entrar.

© Piedade Araújo Sol  2019-02-25

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Meditação




mikeilla borgia
A hora e desoras
com as minhas mãos
escrevi palavras como se fossem
catarse emocional
ou lavagem de lodos criados
às camadas num coração que se quer
vermelho e saudável.

Pretexto para os silêncios não serem ruidosos
mas as águas não lavam a dor
nem sequer as humedece de calor
e por vezes a pele arde
em gestos simples
na inexistência de cinzas
e nas minhas mãos tão cheias de confusão.

Lâminas de vento cortam a tarde gélida
e as memórias ficam a galopar
e um golpe de asa rompe o céu
é apenas um pássaro
que me assustou com seu voo
e me tira deste torpor
em zona de conforto ou meditação.

© Piedade Araújo Sol  2019-02-18

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Passeio os olhos por aí


Josephine Cardin
Passeio os olhos por aí

Hoje descobri um Poeta
Que no seu silêncio gritado
Escreveu o poema que eu deslacei
Desalinhei
Refiz e enlacei no meu silêncio
Que se transmutou em paz
Em luz
Em dia
Em generosidade
Passeio e consigo abarcar
As fores silvestres ao longo do caminho
Com aromas suaves e simples
E desembaraçada
Atiro-as para o mar
Que as levará além continente
Passeio os pensamentos
E sorvo sequiosa as palavras
Do poeta
Que tatuadas
Trespassam no âmago do meu viver
E assim ficam serenas
O universo é uma imensidão de ternura
Em que eu habito na sua plenitude

© Piedade Araújo Sol  2019-02-11

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Frio nasceu Fevereiro

Igor Morski
Frio nasceu Fevereiro
Parece incapaz
De uma quentura que seja
A tudo alheio cresceu
Nas suas águas amargas

Um barco de papel
Flutua longínquo
Embuçado refúgio
A deslizar de frio varado
A navegar com calor

Frio nasceu Fevereiro
Mas cresce o fogo de te querer
No meu veleiro embarcado

© Piedade Araújo Sol  2009-02-10