terça-feira, 26 de junho de 2018

Divagações

ashraful arefin

se soubesse a diferença entre a alvorada
e o escurecer
diria que a noite já abraça o mar .

mas derrapo o olhar sobre o horizonte
e no voo das gaivotas
a agigantar-se o meu olhar lasso.

as memórias renascem
em  resquícios   de sal
em aragem cortante e veloz.

e, sobre mim caem lembranças
das estórias dos barcos
que estão encalhados na praia.

©Piedade  Araújo Sol 2018/06/24

terça-feira, 19 de junho de 2018

Fantasias

Cristina Coral

Dentro de nós, ainda temos as mãos adornadas
do bulício das ruelas calcorreadas
onde os beijos acontecem
sem sequer sabermos o dia que anoitece
e a manhã que o antecede.

Dentro de mim, ainda oiço o sorriso (teu)
e a ternura dos olhos inundados
de cantos celestiais e aventuras
nas curvas do mar
em ondas amotinadas e salgadas.

Dentro de ti, sei que voas nas asas de um sonho
teu (ou só meu) onde as aves voam com um rumo certo e migram
para países soalheiros
ou tão-somente
para dentro de nós.

E subitamente, o tempo é um labirinto
onde nos inventamos
ou nos perdemos
no fogo das intempéries
ou na erupção dos vulcões
que se desfazem em lava.

© Piedade Araújo Sol

terça-feira, 12 de junho de 2018

metáforas em mim

Ben Zank

quando amanhece,
eu já transpus todas as madrugadas,
e todos os sonhos adormecidos em mim.

quanto entardece,
eu já senti o descambar morno
de mais um dia extraviado em mim.

quando anoitece,
eu sei que vou para o povoado
dos rabiscos e das metáforas em mim.

A escapulir-me nas manhãs,
nas tardes
e nas noites,
eu desembaraço os riscos das metáforas dispersos em mim….


©Piedade Araújo Sol 2008-08-19 (reeditado)

terça-feira, 5 de junho de 2018

Por vezes

Marcela Bolívar
Por vezes ainda espreito empoleirada sobre a cadeira
Velha e a cair de caruncho
Através do postigo do quarto da casa grande
E procuro o teu nome nas estrelas
E no chilrear do canto do melros pela manhã

A casa grande envelheceu

E embora os cânticos e os aromas ainda sejam parecidos
Já não são como eram no tempo
Em que não existia solidão
E a saudade
Não tinha lugar e nem pousio certo

Envelhecemos sem saber

E as palavras envergonhadas foram encerradas
Nas gavetas semiabertas dos móveis
Estranhamente
Inventei o teu nome nos arbustos
Que todos os anos se inundam de flores silvestres

E não me perguntam: - porque

Mas, tudo ainda lembra o teu nome.

©Piedade  Araújo Sol 2018/06/04