O tempo ___ na orla do rio

Na limpidez do dia___ com franjas de fragrâncias,
sentada na orla do rio ___ o tempo desliza,
nem um sopro me chega de tempos idos,
e apenas sobram as sombras ____ que ofuscam as águas.

Tanto tempo já passou,
já não sei se voltaremos a falar,
dos temas que fruíam ___ encantatórios,
e eu absorta a ouvir ___ e a absorver expressões.

Hoje o silêncio ____ gravita sobre a tarde,
amanhece com o dia ___ e adormece,
até em longos períodos de vigília,
na luz e muitas vezes na escuridão.

O poente é por vezes o meu cúmplice,
quando o meu olhar se perde no horizonte,
e consegue conciliar _____ questões e respostas,
usufruindo de uma paz que tranquiliza o corpo e a mente.

Eu gosto do rio ______ eu gosto do mar,
que tem a sua linguagem ____ exclusiva,
e que talvez seja só eu que a compreenda,
e que coabitam _____ em parceria com o meu eu.

©Piedade Araújo Sol 2024-02-26
Imagem : Dorota Górecka

Catarse

 

Lavarei todos os silêncios,
que se entranham na minha utopia,
em todos eles, a luz permanecerá,
extravasando na atmosfera.
E o teu nome será sempre o meu escudo.

Limparei todas as lágrimas secas,
absorvidas em todas as vicissitudes,
porque ____ me farei vigorosa,
sem simplificar ___ para ninguém,
a minha eterna fragilidade.

Não pressentirás nenhuma réstia de mágoa,
nem ____ dentro da obscuridade,
em dias enevoados,
nem ____ dentro da luminosidade,
em dias de verão.

A minha boca ___ no desejo da sede.
encontrará protecção na água cristalina,
que escorre em nascentes imagináveis,
do silêncio _____ que suportamos,
como sendo um fardo divino.

Não farei do receio a minha casa,
nem do silêncio _____ a minha morada,
porque nas ruas inocentes,
há vida a palpitar em cada esquina.
E o teu nome fará sempre parte da minha caminhada.

©Piedade Araújo Sol 2024-02-17
Imagem : Vivienne Bellini

em mim a poesia está sempre presente

actualmente os meus passos ___ já não são como outrora,
será ____ loucura minha___ ou o vento que os torna ágeis,
e empurra-me, para locais outros ___ ignorados mas agradáveis.

por vezes perdida ____ entre miragens,
eu danço ___ entre as nuvens ___no infindável espaço,
e entro na noite ___ em que me enlaço.

ah! que não procuro o genuíno ___ se tudo é incerto,
e na indecisão decadente do tempo,
componho palavras que ainda invento.

e em constante ansiedade ___ desenho esquissos,
que os laços da poesia me designam_____ em pertinaz presença,
que vive e flui em meu corpo desde a minha nascença.

©Piedade Araújo Sol 2024-02-12
Imagem : Vivienne Bellin

Onde te abrigas?

O vento procurou outras paragens ,
e rodopiando afastou-se em transe alucinado,
o astro rei rasgou os azuis e derramou fios mornos,
embrulhando a cidade inteira____ tão acolhedora.

Onde te abrigas?

Agora _____ que é quase Primavera,
que País te alberga e retém a tua presença,
que até te fez olvidar____ de nós.

E os dias vão _____á deriva de sombras e sopros,
embalados em questões,
em mapas não descodificáveis,
em segredos que só os pássaros sabem.

Todas as manhã pela mesma hora,
assomem alegres ______ à minha janela,
com seu chilrear cristalino e afinado,
como uma canção contagiante e acariciadora.

Não deixo a melancolia,
apoderar-se deste instante,
em que ainda ____ tenho os meus sonhos,
e afivelo a minha máscara,
para defrontar mais um dia,
que me ampara ____ e me detém.

©Piedade Araújo Sol 2024-02-05
Imagem : Karen Hollingsworth