terça-feira, 25 de maio de 2010

O pessegueiro inglês


Iamos pelos trilhos - sempre
Descíamos os degraus
E no fundo do poço – seco
Fazíamos teatro improvisado
Com as roupas – invertidas
.

Os chinelos - com sola de madeira
Eram literalmente abandonados
Sobre a erva fresca
Que cheirava a verde
.

E declamava-se
Camões
Pessoa
Eu – era sempre inovadora
E
Improvisava poemas escorreitos
Simples
Puros
Forjados no momento
.

(no ar o cheiro das folhas
do pessegueiro inglês * - chamam-lhe verbena)
.

As macieiras em flor
Os melros pretos - debicando
E fomos - éramos
Felizes
.

Retornávamos – sempre pelo caminho principal
(não havia ruas)
Com as ervas arrecadadas
Para o chá da tarde
.

E o rubor a derramar-se
Na face.

*Nota: árvore medicinal e ornamental de pequeno porte cultivada em jardins ou hortas. Originária da Argentina e Chile, é cultivada na Península Ibérica., à qual são atribuídos vários nomes, tais como : Lúcia Lima, Maria Luísa, Verbena-cidreira, limonete e pessegueiro inglês.
Em termos de classificação botânica tem outra série de nomes: Lippia triphylla (L’Hérit), O. Kuntze, Aloysia triphylla (L’Hérit), Britton, Lippia citriodora L. e Verbena citriodora Cav.

Foto:kiki123

terça-feira, 18 de maio de 2010

gesto flutuante


Quando os meus dedos,
sulcaram no teu cabelo macio,
ele cantava
-em silencio –
a ária do gesto flutuante
no crepúsculo que brotava algures.
.

Narcotizada fiquei ao observar

a paleta de cor existente no teu olhar

em que serenei o meu

ávido da luz existente no teu.

.
E por instantes mitiguei a minha sede,
mas sem nunca saciar a secura que subsiste
para além de mim
-e de ti-.
.
Foto: Agniesszka Uziębło http://plfoto.com/50445/autor.html

terça-feira, 11 de maio de 2010

Monólogo em trafego



Eu sei das tormentas – em mim
E do adejo dos pássaros
Após a bonança – em ti
As horas de abrigo
E a soltura das amarras
Num porto inventado em mim.
.
Sei da alucinação das mãos – desregradas
O frio no estômago – a dor da saudade
De ler o poema
Traduzido no teu corpo
Apêndice – do meu.
.
Sei e estremeço
Ao pulsar da cidade
E do suspiro abafado
Ao som duma música
Que vem dos telhados
Que sonhei em nós.
.
Sei – um dia
Ainda vou fazer um canto
Em eco
Indizível do presente
E
Do
Ocaso dos frutos!
.
Tela de Betty Branco Martins http://bettybrmartins.blogspot.com/

terça-feira, 4 de maio de 2010

Soltei meu braços


Soltei meus braços no tempo
Num abraço que não dei
Tranquei em mim um lamento
Para ver o que eu nem sei.

Ancorei em porto errado
Num mar que nem era meu
Confundi barco amarrado
Com as gaivotas no céu.

A cor das vagas não sei
Se eram azuis ou sem cor
Sei apenas que juntei
No meu mar o teu sabor.

Deixa que lave meu pranto
Sem mais ninguém o saber
Neste mar do meu encanto
Que é o sonho de te ver.