terça-feira, 29 de março de 2011

o espelho detrás de mim



silenciosamente regresso ao tempo antigo.    a chuva que cai provoca um reflexo de luz e espanto no espelho através da cor possível em jeito de partículas.    a água lava a beleza da tarde.    ficam sulcos escorrendo em pingos na terra.    às vezes o cheiro que emana da terra é apenas a imaginação dos sabores da erva tenra e verde.  pela tarde na luz tosca,fulminada nos olhos dos pássaros acomodados nos seus ninhos.     avanço ao encontro das magnólias ou dos cravos frescos lembrando abril.
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Foto: marcepani~

terça-feira, 22 de março de 2011

Se


Se a lágrima é sal, talvez a noite seja seda.  No meio das trevas.  Talvez uma flor.  O silêncio.  Apazigua a dor.  A ferida aberta do ser menino-pássaro sem voar.  E sem ser mar.  Apenas fragmento, cartilagem, osso e vida, ainda por viver.

Se a lágrima é sal, talvez a dor seja a loucura indulgente – branca – disforme e crua, deitada – estendida de forma inútil. Inútil.  E tão pungente em espasmos de silencio.  A lágrima é apenas e tão-somente, revolta.
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Foto: Delecious13

terça-feira, 15 de março de 2011

futilidades

quando me esqueceste, os teus olhos assemelhavam-se a uns olhos de cão e a tua alma tinha simbioses de voos de pássaros exóticos.  não sei porque me lembro sempre da curva a esvair-se em ti e tu a esvair-se na curva da minha e da tua e da nossa vida.

o meu corpo em cima dos saltos altos.  altos.  tão altos que me faziam mais alta que tu.   o vestido – encarnado – a me aprisionar os movimentos que se queriam lestos. foi o último dia que usei saltos altos e que usei essa cor.  esqueceste-me como um dardo lançado ao acaso num dia sem hora sem estação sem mágoas.  simplesmente.  esqueceste-me.  e voaste para o mundo das gaivotas que sobrevoam o mar e por vezes o rio.
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terça-feira, 8 de março de 2011

Como se o tempo


Como se o tempo agonizante nas
Escarpas
Tivesse o lume dos corpos - jovens
E o céu azul a cor das romãs
Íamos como os bichos
Pelos trilhos
Descobrir as artérias dos
Corpos – ainda – virgens
Nesse tempo
Não sabíamos
Das cinzas nas bocas – outras
E dos beijos – perdidos
Das mãos acorrentadas – presas
Nas rochas
Harpas – seriam
Faunos
Ao anoitecer rindo de tudo – e nada
Na perplexidade das coisas líquidas
Dos destinos - desatinos
Sem destinos
Os trilhos sem fim por vezes sem retorno
E as pétalas dos nardos
Dependuradas nas mãos - distraídas.
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terça-feira, 1 de março de 2011

a


a lágrima antes
depois o beijo - a asa
num céu
inventado
os voos altos
os ventos perpétuos
detalhes
em água - na nascente
que jorra
perdida
numa fonte - adiada
no olhar
a madrugada
com lâminas de fogo.
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Foto: Ertu