terça-feira, 31 de julho de 2012

Vagueio


Vagueio no espaço do tempo que reservei para mim e, sem que saibas,
Sonho-te
Moldo a tua face numa escultura que faço e que guardo no declínio da tarde
Escondo-me na silhueta das gaivotas sobre as águas do mar
E entrelaço, serena, a miragem que me entontece
Vagueio sem velas, sem barco, sem vento
Sopro a brisa e vou
Em voo imaginário, a cingir as nuvens
Ao encontro de ti. 

© Piedade Araújo Sol  2012-07-31

terça-feira, 24 de julho de 2012

Insisto



Insisto em pintar um desenho, com traços certeiros e velozes, com as cores perfeitas.
Mas não consigo as cores genuínas e sei que nada é perfeito.
É apenas uma vontade imperfeita de querer difundir, um reflexo, um pedaço de um personagem que nada tem de perfeição.
Falta vida.
Apetece-me dizer-te:
São labirintos de ilusões e essas não se podem pintar
Mas as palavras, ficam por dizer e o meu desenho por fazer
E a ausência de cores levam-me a abandonar – momentaneamente
Um desenho fragmentado
De existência de cores
.
 © Piedade Araújo Sol  2012-07-24

terça-feira, 17 de julho de 2012

.....



Eu queria que soubesses – que hoje o dia
Despertou claro e abafou com a sua luz
Como se fosse uma manta sobre o delírio da minha existência
Fios de sol caem amotinados
E eu acho que se as lágrimas caem
É tão-somente para arrumar meu coração
De uma mágoa
Que me assolou inesperadamente em dia
De brilho de ouro

© Piedade Araújo Sol 2012 -07-16

terça-feira, 10 de julho de 2012

É tarde

.

É tarde.   O dia rompe com um alvorecer, alado, cor de cinza retocado de nuvens brancas como o lençol da cama, em tumulto.   Continuo sem dormir atravessada na cama numa postura fetal, a cismar enredos de filmes que não vi, nem vou ver, porque simplesmente não existem e ninguém se lembrou de escrever o guião nem escolher o elenco.  É um filme meu. Se me perguntarem onde estive, juro, que não sei, nem me lembro do sítio nem da rua, nem do que existia em volta de nós, de mim e de ti. Não sei! Juro! Apenas me lembro e vejo. Tu a sorrires. A morderes o lábio inferior e a sorrires. Esse sorriso que nunca vi em mais ninguém. E tu a falares de coisas e eu a querer falar e sem vocábulos, porque se abrisse a boca. Acho que vomitava flores em vez de palavras e aposto que tu, me chamarias e me levarias para um outro lugar, onde eu continuaria em estado zen e sem saber que fazer, ou dizer. Eu a fingir. A sorrir. A imitar o teu sorriso (inimitável). Eu a olhar a camisa (tua) a imaginar a cor encoberta da tua pele, a olhar e a navegar em atalhos de palavras que não disse, e que tu nem congeminas.
É tarde. Que dia é hoje...!?

©Piedade Araújo Sol 2012-07-10

Foto : FLAQ

terça-feira, 3 de julho de 2012

Momentos


Quando a cor
Se desprende dos teus olhos
Claros e vivos
Retenho a luz que deles emana
A lembrar a teimosia
Inesgotável
Das águas do mar

Tento decifrar
O motivo do sorriso
Como um filamento
de vocábulo
A estrangular tempestades
Que se querem
doces e ternas

Abraço-me
Langorosa
De olhos semicerrados
Claros e vivos por contágio
A congeminar marés
Que nos acariciam
Nas areias da praia
De nós copiosa


© Piedade Araújo Sol 2012-07-03