terça-feira, 24 de abril de 2018

abril


eram tão jovens.   ainda tão jovens.  em cada dedo traziam um sonho na velocidade das palavras.   apenas palavras.   traziam em cada dedo cravos rubros,  que se perderam no tempo.   no destempo de outro tempo sem tempo.   era abril dum ano, um outro ano,do ano em que em cada dedo traziam um sonho silente.

sonhos destapados
cravos amputados
cravos em sangue
em mágoa
em raiva
abril de cores desbotado
correndo
célere em precipícios cavados, encontrados
sonhos moribundos

lunáticos - talvez.

eram potros selvagens
eram tão jovens, ainda tão jovens.
.
©Piedade Araújo Sol 2011-04-25
(reeditado)

terça-feira, 17 de abril de 2018

Eu escrevo insónia

omar ortiz
Dizias que eu, quando me sentia triste, ia para casa
e escrevia um poema.
.
Mas eu faço poemas mesmo quando não estou triste,
escrevo apenas palavras que brotam de mim
e que ficam ali no papel,
apenas isso. Amanhã, nem eu própria nem ninguém
se lembrará mais delas, das palavras.
.
Eu escrevo insónia e ninguém entende.
E não há motivo aparente para entender.
E se me apetece ligar para ti, não o faço
porque não tenho nada para te dizer,
era só para ouvir a tua voz, mas tu nem irias atender,
porque estás atulhado em trabalho e eu sei que
é verdade, sei, mas não sei se sei aquilo que penso que sei,
porque eu escrevo insónia, e é só uma palavra.
.
Todas as noites antes de adormecer eu escrevo um SMS,
mas não te envio. Leio e depois apago.
Eu sei que tu dirias que não tinhas tempo de ler
E que isso são coisas de putos
E eu volto a escrever insónia.
.
Ninguém sabe que a noite pode não ser igual para todos,
pode ser terrível
de onde saem todos os espectros que nos assolam e
nos transmitem medo.
.
Eu escrevo medo e ninguém tem medo.
Ninguém tem medo do meu medo.
Ninguém quer saber a cor do medo e afinal sou só eu
que tenho medo,
que desfio as cores complicadas que ele emite.

E de que serve escrever insónia?!
Ninguém se lembra…
Ninguém tem medo das palavras que não mostro…

© Piedade Araújo Sol 2012-10-17
(reeditado)

terça-feira, 10 de abril de 2018

esse olhar

katharina Jung

esse olhar que inunda a teia,
da memória alongada,
raiz,
de um tempo esculpido na utopia,
minha,
ou tua, ou até e só nossa.

imóvel, na placidez que escorre,
por entre as memórias,
não é  apenas um olhar,
mas uma luz que ateia,
a noite e,
que perdura no tempo.

e ainda e sempre o teu corpo,
será um porto de abrigo.

©Piedade  Araújo Sol 2018-04-09

terça-feira, 3 de abril de 2018

Tempo

Damian Drewniak
A chuva entrelaça as gotas
Entre a vidraça e o baço
E a chuva que cai lá fora
Também cai dentro de mim
O olhar tomou conta dos gestos
Ou na incidência das gotas

 ©Piedade  Araújo Sol 2018-04-03