terça-feira, 25 de março de 2014

Hoje sinto o silêncio

Marc Lafontan.

Hoje sinto o silêncio a desenhar o tempo,
num frio que me estorva os movimentos,
pintando-os de vento e sombra.

É a primavera, que  teimosa ausenta-se de mim ,
e esborrata-me o desenho,
que já nem é colorido nem cintilante.

O tempo equivocou-se,
as cores  pálidas estão zangadas,
tresmalhadas no tempo.

Nos passos  perdidos nas águas,
que inundam a rua revoltosas ,
curiosas e desprotegidas.

Caída do cimo da árvore,
além uma folha  no chão,
moribunda , sem  réstia de verde.

Já sucumbiu,
envergonhada e sem memória,
jaz reflectida na água estagnada.

O meu desenho hoje é apenas silêncio,
desnudo, a desenhar o tempo frio ,
que nem lembra  que é primavera.
.
©Piedade Araújo Sol 2014-03-24

sexta-feira, 21 de março de 2014

Em dia de dia de poesia


que toda a poesia seja,
lida,amada,e declamada
 mesmo que seja no silêncio do nosso coração.

©Piedade Araújo Sol 


terça-feira, 18 de março de 2014

escrevo beijo em cima de um voo



Escrevo beijo, em cima de um voo,
como quem pinta uma aguarela,
vertendo tintas,
em contramão sobre a tela

Beijo arremessado ao vento,
no tempo(lá fora) glacial e invernoso.

Escrevo beijo,
desenhado em cor rubra,
lembrando o sol,
recordando a lua,
o azul do céu,
e um barco velejando,
em mar amotinado e feroz.

Viajo nas palavras,
que o papel recebe sem protestar.

Escrevo beijo,
 num ímpeto, 
descrente onde a saudade,
não, dissipa o frenesim,
abafado na noite,
e na alvorada a assomar.

E mais uma vez escrevo,
beijo.

O beijo que te desejo dar.

©Piedade Araújo Sol 2014-03-18

terça-feira, 11 de março de 2014

e do livro saíram palavras

Adelina Kim
Andei a semear palavras, em páginas imaculadas. Outras vezes (muitas vezes) em guardanapos de papel,e em livros impressos, que nem sempre foram entendidas.

Elas, cheias de cor, e por vezes envoltas em utopias (minhas) dançantes com leves passos de bailarina e que num palco desertaram.

Mas todas elas (as palavras) deram frutos que guardei num cofre  de recordações.

Ficam no entanto dispersas por aí, em forma de pétalas de papoila, com o sabor dos mirtilos, ou tão-somente nos voos das gaivotas a planar os céus.


Basta-me sonhar e as palavras ganham asas, cores e sabores que se dissolvem no vento e na maresia.

©Piedade Araújo Sol 2014-03-09

terça-feira, 4 de março de 2014

Somos sonho

Sheila Kosta

Somos sonho estirado à luz do dia, e no relento da noite. Somos brisa,quase amor, quase sal, quase nada, quase tudo.
Autênticos fragmentos de luxúria, em abismos de azuis, espatifados
no tempo. Somos sonho.

Algures em traços de aguarelas pintadas.
Numa tela dependurada no teu e no meu olhar.
Desenho-te o corpo em azuis matizados de cinzas e verdes, e
fragrância de sedução e quimera.

E a poesia é apenas o sonho que as palavras nem sempre sabem dizer
Nem narrar
Nem tão pouco soletrar
Do sonho e do segredo
Da menina que fugiu para dançar
No simulacro de uma nuvem pejada
De sol e fogo
Em faúlhas de inocência e ternuras.

Somos sonho(sempre).

©Piedade Araújo Sol 2014-03-03