terça-feira, 30 de setembro de 2008

meditação das águas

o crepúsculo tombou abstraído e desorientado na poeira das memórias difusas que se encontram enclausuradas nos espelhos indecifráveis do meu eu.
a inquietação rasga-me a pele, suave e branca, e sinto as maresias que se formam na crista das águas amotinadas do mar que me habita.
submersa nas abóbadas da noite, sinto-me um peixe multicolor aprisionado dentro dum aquário de espelhos convexos que me refractam…

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Perguntas ao vento

Da janela do meu quarto olho a praia. Está vento. Aqui está sempre vento!Tenho tantas perguntas sem resposta. Por vezes queria fazer as perguntas que me queimam os neurónios. O telemóvel vibra. Olho-o de soslaio, está em sinal de reunião. Numero privado. Nunca atendo números privados. Não me apetece. E as perguntas ficam sempre por fazer. Ficam sem respostas. Não me apetece fazer nada. Nem comer. Nem me levantar. Estou morta. Morri com uma overdose de tédio.Soergo-me. Olho a praia da minha janela. Está vento.É isso! Levanto-me!Coloco o telemóvel dentro da gaveta e visto-me rapidamente com a roupa que estava na cadeira. Não a conheço, acho que nem é a minha. Amarro o cabelo num rabo-de-cavalo e saio para a tarde e para a praia que me espera.Fiz as perguntas ao vento e não obtive respostas….

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Abandono-me aqui

Abandono-me aqui
e acaricio as águas que choram algures,
vestígios únicos
das chuvas que dançam em mim.
Por momentos,
percorro-me com as mãos
em gestos decorados.
Nas minhas margens
há silêncios, apenas quebrados
pelo som das giestas que ondulam
ao sabor de um vento mágico
a devorar a chuva caída.
Não sei que chão é este que piso…
Sei de um nome desusado
que não gosto de mostrar
com o frio que me lavra na alma,
deixando sulcos pungentes e claros
nos meus dedos quebrados.
Num ápice vagaroso,
este corpo move-se, frágil,
numa dança de palcos fantasiados
no cume de silêncios
a embalar notas transpostas
das frinchas de luz,
colcheias de chuva em gotículas
nas minhas mãos sedentas de beleza
que eu consegui esconder do vento.
Abandono-me aqui,
no sono das madrugadas
em forma de dançarina estática
e acaricio as águas que choram algures.

Foto:Malutka

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Fuga da insónia

É tempo de aniquilar este gesto inócuo,
esta cisma de olhar
os barcos quietos.

É tempo de navegar,
ainda que o meu corpo
jamais saia deste cais.

É tempo de tomar um rumo,
e encetar a fuga
do reino das insónias.

Foto:_-_Eau_-_

terça-feira, 2 de setembro de 2008

A partir de hoje

Além na linha do horizonte as nuvens olham-me desordenadas e obtusas, e nelas vejo o teu olhar sobressaindo fiapos em agitação que se metamorfoseiem em brisas que me arrepiam a pele alva.
.
Extrai toda a luz dos meus olhos, aprisiona na magia que eu queria eterna, e deixa que o lume incendeie e inflame e depois se extinga como as cinzas.
.
A partir de hoje vou engendrar resquícios de ti em tudo o que me for permitido, ver, sentir, cheirar ou inventar…
.
2008/09/02
Foto:tourment