terça-feira, 29 de junho de 2021

Teoria - Memórias

Tu tinhas a teoria (a tua)
que explicavas em voz alta
com uma dicção irrepreensível
e não aceitavas interrupções
ou contradições.

Eu não precisava de teorias
quando tinha que viver e lutar
pela realidade (a minha)
que não se enquadrava na teoria (a tua).

Mas, tu não compreendias
e não perdoavas
quando alguém te contrariava.

Eu ousava, e exponha a minha dúvida
mas dei-me mal, muito mal
quando no final do período
olhei céptica para a pauta , e tinha chumbado.
Um ano tresmalhado é certo
mas não me dobraste como aos outros.

Tanto tempo já se passou
hoje ao ler um dos teus livros
senti que não guardo ressentimento
e se não concordei na altura
com a tua teoria sobre tantos assuntos.

Admiro e admirarei para sempre
a forma criativa
da tua poesia.

© Piedade Araújo Sol 2021-06-27
Imagem : Christine Ellger

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terça-feira, 22 de junho de 2021

O Silêncio


Ouve, ouve atentamente
o ruído do silêncio
imagina o seu desmesurável tamanho
colossal e glacial.

Ouve, e digo-te que todo ele cabe
na minha mão pequena
como um eco que se consome
oculto e inexplicável.

Talvez o vento nos traga
lembranças encerradas
que a mente camufla
no frio do silêncio.

©Piedade Araújo Sol 2021-06-20
Imagem : Katerina Plotnikova

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terça-feira, 15 de junho de 2021

Amar-te


Amar-te foi tropeçar numa curva do destino,
sem imaginar encontrar-te,
foi uma linha irrequieta,
interdita e que eu nem quis saber.

Foi o caos que se libertou em mim,
foi um voar sem asas,
e em contramão,
foi o perfume inebriante da maresia.

Foi cair e levantar sem sentir,
as feridas que se compunham,
de raspão,
e ficavam em combustão.

Amar-te foi o renascer,
o reviver,
o entender a compartilhar,
e o rematar.

Nesse caos que nós construímos,
e que planando em nós,
foi tudo o que não procurávamos,
e não esqueceremos jamais.

©Piedade Araújo Sol 2021-06-14

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terça-feira, 8 de junho de 2021

Pelos azuis do horizonte

Por vezes os meus anjos,
digladiam-se severamente com os meus demónios,
nunca sei se as guerras entre eles,
sucumbe com algum vencedor,
mas creio que sim e sinto-me,
sempre (ou quase) protegida pelos anjos.

Quando me sinto perseguida,
desenho azuis induzida no horizonte,
mesmo que empoleirada nos abismos,
da vida com lâminas aguçadas,
que não me chegam a golpear ,
porque eu sou auxiliada pelos anjos.

E pelos azuis do horizonte.

Autor : ©Piedade Araújo Sol 2021-06-06
Tela : Luís Rodrigues

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terça-feira, 1 de junho de 2021

Às vezes estou triste

às vezes estou triste
nesses instantes invento palavras e momentos
que (talvez) nunca subsistiram senão em mim
e no meu subconsciente,
que oiço vozes em forma de ecos.

Muitas vezes, oiço-te
E tu dizes raras vezes (muitas vezes) que eu sou complicada e diferente.

.
E eu pergunto-me se alguma vez tu me disseste essas palavras que eu às vezes oiço ou se ou se sou só eu que as imagino
e que debito no papel onde por vezes as escrevo.
.
Acho que todos somos complicados por vezes
acho que a vida é complicada

E nós complicamos ainda mais
Tantas vezes – muitas vezes.
.
Tu dizias que eu era a pessoa mais imprevisível que conhecias
E eu sorria escondida num sorriso mudo e inexcedível.
Porque eu achava que quem era imprevisível eras tu
Hoje, olhando o vazio da tua imagem.

Ainda és tu que me sorris
para além do espelho que miro em mim
E que me faço em ti.

Contigo nunca foi necessário inventar nada
Nem tempo
Nem tristezas
Nem alegrias
Tu eras tudo
Tudo.
.
Por isso ainda hoje subo o Chiado lentamente
Lentamente
Muito devagar e sinto que estás mal estacionado
E que já apanhaste uma multa pela minha demora.

Quando estou triste ainda é, e sempre será
o teu sorriso que me acalma
o sorriso mais belo que eu conheci
e que nunca mais consegui encontrar em mais ninguém.
.
Um sorriso que alegra a vida.

© Piedade Araújo Sol 2013-05-28
Imagem : Jaroslaw Datta 

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