terça-feira, 27 de outubro de 2009

Um dia cinzento

Contradizendo, eu diria que depois da bonança, vem a tempestade.

E hoje! Danço no aglomerado do cinzento das nuvens, os anjos varreram atabalhoadamente o céu e deixaram um palco vazio, onde posso dançar, rodopiar livremente, sem garras a me tolherem os movimentos.

E danço! Em movimentos ingénuos, nem sempre cadenciados uma melodia dum bailado a solo.

E chove! Bátegas frias, inundam este palco improvisado pelos anjos – eles estão abismados, com a minha ousadia – em cores de cinza e prata, e molho meus pés de bailarina, sem sapatos de cetim, perante uma plateia inexistente de humanos.

E desvairada! Em ritmos frenéticos engenho, novos passos que soam a tempestades, sem sentires de bonança

É tarde! E danço!

E chove!

Foto:45_picks

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Talvez um dia a imagem

Talvez um dia, a imagem seja a bruma ,
ou a lava na terra queimada
E o registo do alvorecer
seja a água parada das lagoas em tons de azul.

Talvez submergindo eu seja uma,
sombra em forma de musa sentada na serenidade ,
das águas geladas, respirando o odor que
a foz envolveu na sua ininterrupta cavalgada,
e acautelou na mensagem da luz enlouquecida.

E cerco-me de emudecimento
E bebo o olhar circunspecto
na limpidez das águas
que não quebra a perfeição do momento.

E é de cristal a pureza
No fluído da água
que agora é um rio, que os meus olhos observam
na tarde estendida
e no feitiço da paisagem.


Foto: darek893

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Não há maior ventura


Não há maior ventura
de que olhar-te de mansinho
e percorrer a visão
pelo teu rosto sereno, apesar do teu olhar
por vezes ser distante e completamente inexpressivo
.
Não sonhas sequer que os traços do teu corpo
são sempre um novo segredo
que se reaviva em cada meiguice que te faço
e quando vagabundeio os meus dedos
pelo teu cabelo suave, é como se fosse
sempre a primeira vez.
.
. E quando nos despedimos, eu levo sempre
o teu perfume solto
arreigado em mim, aliado na saudade
e plantado numa letra de um fado
que ainda ninguém cantou.

.

Foto:aniawojszel

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O Sonho


Há quem pense
Que o sonho é apenas uma ilusão
Que nasce durante a noite
E morre ao amanhecer

Mas eu sei que o sonho
Pode ser uma realidade
Que trago comigo ao acordar
E asfixio ao nascer do anoitecer

E se acham que o sonho
Morre com o poeta, eu digo
Que o poeta nunca morre
Porque o sonho com ele apenas repousa

Mas, ainda assim, eu penso que o sonho
Faz parte da saudade
Que o poeta deixou a navegar
Na imensidão do mar.

foto:klojt