terça-feira, 27 de outubro de 2020

Tolices sem alibi

Tão pequenina e frágil a minha mão, 
mas acho que todos os meus sonhos, 
ainda cabem nela, 
olhei para as tuas, 
grandes, morenas, experientes, 
e tão insondáveis. 

Pelo menos assim pensava, 
mas os dias ficaram estranhos ,
muito anormais e perturbados, 
a previsão que tenho agora, 
é que a minha mão, 
jamais pegará na tua mão. 

Nem tão pouco fará parte ,
da loucura da tua rotina, 
então eu silencio-me, 
nestes tempos esquisitos ,
imprevisíveis e dolorosos. 
Hoje corre uma aragem. 

©Piedade Araújo Sol 2020-10-26 

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terça-feira, 20 de outubro de 2020

Post scriptum


sou os lábios que beijaste.   quando nem sequer sabias meu nome. estavas assustado, ou distraído nunca o soube, porque a noite estava pardacenta e muito fria.   Lembro que tu colocaste o teu caso sobre os meus ombros, era um sobretudo azul escuro, que me agasalhou até aos pés.   e fomos percorrendo a ribeira das naus, simultaneamente com os outros…ou íamos sós…não sei.   devolvi-te o sobretudo e quando entrei na estacão do metro, pensei que nem sabia o teu nome, nem tu sabias o meu…

e ainda não sei.

2020-10-19 ©Piedade Araújo Sol

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terça-feira, 13 de outubro de 2020

Hoje está sol


Imagem : Patrizia Burra
Já nada sei neste destempo actual, 
Onde fica o espaço do verão, ou do outono, 
mas sei que as estações mudaram em mim, 
e no tempo, que ainda existe dentro de mim, 
por vezes soalheiro e por vezes glacial. 

Hoje sinto labaredas no meu corpo, 
a desenvolverem-se como lava, 
a corroerem quase tudo, 
menos o que me ficou de ti, 

o sabor a mirtilos dos teus lábios, 
para recordar a calidez do beijo. 

©Piedade Araújo Sol 2020-09-21
Inspirado aqui : https://brancasnuvensnegras.blogspot.com/

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terça-feira, 6 de outubro de 2020

A minha recordação é frágil

 

Imagem : Ira Zhuyka Dzhul
A minha recordação é frágil, 
já não detenho quase nada do que proferes, 
nem tão-pouco um esboço do teu olhar claro. 

Já não guardo o que te prometi, 
nem a agenda tem sequer o teu nome,, 
louca de mim, eu calei-me e dentro do meu silêncio, 
acorrentei e só plantei utopias, 
pensei que um dia, 
bastava esperar o vento, 
que me traria as sementes. 
E apenas acabei por colher silêncios. 

Que me destroem vagarosamente, 
Já nada retenho, mas, lembro como se fosse hoje, 
a ternura com que me pegaste ao colo, 
naquele outro tempo, 
naquela outra cidade, 
onde a chuva caía mansamente, 
sobre a mansarda… 

©Piedade Araújo Sol 2020-09-21 
inspirado aqui: https://brancasnuvensnegras.blogspot.com /2020/09/a-minha-memoria-e-fraca-nada-do-que-me.html#comment-form

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