terça-feira, 28 de maio de 2013

Às vezes estou triste


Às vezes estou triste

nesses instantes invento palavras e momentos
que (talvez) nunca subsistiram senão em mim
e no meu subconsciente,
em que oiço vozes em forma de ecos.
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Muitas vezes, oiço-te
E tu dizes raras vezes (muitas vezes) que eu sou complicada e diferente.
.
E eu pergunto-me se alguma vez tu me disseste essas palavras que eu às
vezes oiço ou se sou só eu que as imagino,
e que debito no papel onde por vezes as escrevo.
.
Acho que todos somos complicados por vezes
acho que a vida é complicada
E nós complicamos ainda mais
Tantas vezes – muitas vezes.
.
Tu dizias que eu era a pessoa mais imprevisível que conhecias
E eu sorria escondida num sorriso mudo e inexcedível
.
Porque eu achava que quem era imprevisível eras tu
Hoje, olhando o vazio da tua imagem
Ainda és tu que me sorris
para além do espelho que miro em mim
E que me faço em ti.
.
Contigo nunca foi necessário inventar nada
Nem tempo
Nem tristezas
Nem alegrias
Tu eras tudo
Tudo
.
Por isso ainda hoje subo o Chiado lentamente
Lentamente
Muito devagar e sinto que estás mal estacionado
E que já apanhaste uma multa pela minha demora.
.
Quando estou triste ainda é, e sempre será
o teu sorriso que me acalma,
o sorriso mais belo que eu conheci
e que nunca mais consegui encontrar em mais ninguém.
.
Um sorriso que alegra a vida
.
© Piedade Araújo Sol 2012-05-28

terça-feira, 21 de maio de 2013

Distâncias


A tua rua estava deserta
A tua casa estava com a porta
Fechada ( para mim estará sempre aberta)
Abria-a e entrei,
apenas quis sentir no silêncio,
a tua sombra,
 a presença da cor imóvel,
nas paredes e nas divisões.
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No silêncio da casa
E no reencontro das memórias
De nós
Dos degraus percorridos
Dos dias diluídos 
Longínquos
Da saudade que devora e me engole 
deixando feridas profundas
Despedaçadas
Na distância forçada que não escolhemos.
.
Imploro aos Deuses
para que voltes um dia
ao teu País
Em breve - muito breve
.
E que esta saudade 
se apague
ao rever
a luz do teu rosto
na alegria do reencontro.
.
© Piedade Araújo Sol 2013-05-20
Foto : Marta Posyłek

terça-feira, 14 de maio de 2013

Desencontros


Sei dos extravios do meu eu,
fragmentos disseminados de mim
em estilhaços desequilibrados de pólen,
sem rumo a sobrevoar a praça.
.
Atropelos de mágoas sentidas,
desmembradas nas areias
e no sal do mar, onde
me amparo e relaxo.
.
Sei dos desencontros,
nos desenhos que pinto
em labirintos de cores pálidas,
e nos voos inesperados das gaivotas.
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©Piedade Araújo Sol 2013-05-14


terça-feira, 7 de maio de 2013

Tenho um sonho





Tenho um sonho escondido no brilho do dia,
que dança descontrolado,
por vezes acorrentado de nuvens,
que entornam as suas lágrimas,
metamorfoseadas em água doce, na terra árida.

O meu sonho é desenho, silhueta de riscos insondáveis,
sem alma que divagam apenas numa partícula,
de sonância e silêncio,
num horizonte em que minha visão óptica,
se perde e por vezes se encontra.

Momento breve, difuso,
que se modifica em acordes de música,
orquestrada nos sons da chuva,
e nos ecos de vento,
e em que me purifico num doce batizado,
de águas doces puras e frias.

Eu sei que as águas tinham de ser salgadas,
mas, eu tenho um sonho escondido,
algures por aí.


©Piedade Araújo Sol 2013-05-07