terça-feira, 25 de agosto de 2020

Não sei do teu nome

Propositadamente,
quis esquecer um nome
(o teu).

E ilegíveis letras, em fragmentos
enlouquecidos,
inundaram a praça, repleta de árvores
da sumaúma. *

Teu nome foi sepultado, sob líquenes e pedras.
Algures.
Não o lembro mais!
Provavelmente, um dia, os arqueólogos
encontrarão resquícios de meteoritos, que os
levarão
a uma pesquisa infindável e sem sucesso
aparente.

Respiro o ar asfixiado da manhã.
Coloco flores frescas num vaso de terracota,
fronteiro à janela, que dá para a praça.

Não sei do teu nome.

©Piedade Araújo Sol 2009-08-18
Imagem : Laura Zalenga

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terça-feira, 18 de agosto de 2020

Amanhã serei apenas mais uma estátua


 Desfaleci  meu olhar nas colinas, prenhes de noite, e sombras cativas semearam resignação, em teu último olhar.
Sei  que fugi atordoada pela noite e pelo nevoeiro que se desmoronou em mim, e regressei-me ao aquário, onde os peixes vivem, submissos e aparentemente serenos.  
E o mundo é tão cheio de teorias e eu apenas vislumbro pinceladas de certezas,  que se querem brandas e não desinquietas, e eu não as entendo nem as quero entender .
Falaste-me  das cores dos olhares, e deste-me a beber o licor dos frutos doces dos pomares, mas, não me anunciaste a partida dos pássaros para os lugares solarengos.
E foste com os pássaros .
Não sei (ainda) das utopias que nascem nas flores escassas, defronte da planície.
E resta em mim,  apenas fuga,  apenas saudade
É definitivo. É tudo a fundo perdido. Tudo com um fim, por vezes não anunciado.
Correm brisas frescas, anunciando a alvorada, amanhã por entre o nevoeiro, a praça terá mais uma  estátua.
Autor : © Piedade Araújo Sol   2011-08-02
Imagem : Viktoria Haack

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terça-feira, 11 de agosto de 2020

sonho-te


sonho-te
(em enredos de papel multicor
em escarpas de águas frias
em manhãs repletas de luz)
sonho-te
(em estórias – minhas
tão minhas – em crepúsculos de sol…)
sonho-te
(em cidades, que disfarçam, inquietações
e no traçado do horizonte,
onde extingue a minha e começa
outra cidade).

©Piedade Araújo Sol 2010-08-03

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terça-feira, 4 de agosto de 2020

Filigranas de Sol

Imagem : Katerina Plotnikova
Escudada em filigranas de sol, detenho apenas
o olhar sobre a nudez ingénua
da paisagem, em delírios de caminhos
e simbioses de cores.

Na falta do linho, cubro meu corpo com organza (*)
e durmo deitada em pedaços de serapilheira
num chão duro de terra batida.

Meu olhar repousa cativado
até onde a visão, espantada pode
alcançar….

©Piedade Araújo Sol 04-08-2009

Nota : A Organza é um tecido puro e simples, cuja tecelagem é feito em ponto de tafetá. Possui textura fina e leve, com um acabamento ligeiramente brilhoso.

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