terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Procura



Insisto em remar contra a maré
Pretendo um ancoradouro seguro
Para descansar meu corpo
E explorar os silêncios
Que não quero compartilhar
Numa espécie de egoísmo invulgar


A minha vida é feita de jornadas
E no entanto repleta de ausências
De precipícios profundos e corrosivos
De labirintos toscos
Onde só as ervas malignas imperam
E fazem pousio


Ando desorientada e dispersa
Nos cinzentos dos dias em que flutuo
Ou desencontrada das outras aves
Não sei cadenciar o voo irrepreensível


Minhas palavras soluçam
Num emaranhado de letras
Ébrias pela solidão
Numa chuva de sal


Eu apenas procuro um porto de abrigo
Que ainda não encontrei
E quando a noite chega carregada de mistério
Eu sou uma metamorfose de estrela
Com uma luz breve mas pertinaz


© Piedade Araújo Sol 2021-02-22
Imagem :Svetlana Belyaeva

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terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Chamam-me bicho do mato

 


Chamam-me bicho-do-mato
Inspirado Aqui : https://brancasnuvensnegras.blogspot.com.


Fecho os olhos e lembro-me que me dizias muitas vezes, que eu parecia um bicho-do-mato.
Sim, em parte terias razão, mas digo, só em parte.
Que sabias tu de mim? Dos meus medos, dos traumas da minha infância que ainda hoje e sempre carrego comigo, do bullying na Escola Básica, mais tarde no trabalho e outros segredos meus, de que nunca falei a ninguém.
A minha infância com os meus cabelos desatados sobre um corpo magricela que era mais ossos que outra coisa.
No princípio ficava incomodada mas, quando no silêncio do meu quarto caiado a cal branca, pensava em ti, e nas tuas palavras, as outras que me dizias. Então eu deixava que os sonhos desmaiassem em mim, como pétalas de flores coloridas e perfumadas.
Depois de tanto tempo, ainda fecho os olhos e imagino-te. Por vezes sinto a minha mão sobre a tua, e o teu cheiro que ficou entranhado no meu corpo para sempre.
Sei que são apenas as boas memórias que eu quero recordar com toque de algodão, aromas de mar, e a tua boca com sabor a mirtilos.
Nós. Há muito tempo!
Sentados na esplanada da praia. Quando tu falavas dos barcos eu dizia sempre:
- Eu gosto do mar! Gosto de barcos lembra-me o meu pai.
Sabes, ainda sou bicho-do-mato, ainda tenho os mesmos amigos de há vinte anos, ainda ando com o cabelo desatado, e os meus segredos, serão sempre só meus, órfãos de pai e mãe, alguns em forma de sonhos outros em pesadelos, que ainda me visitem durante a noite cheia de sobressaltos com o corpo em completo alvoroço, e com um gosto amargo na boca.
Tu não sabes, mas além de ser um bicho de mato, eu sempre tive medo do escuro.
Ah! E ainda durmo com uma luz de presença.
Isso também não é proeminente.
A saudade talvez seja, mas é uma saudade boa que ainda e sempre guardo de ti…

© Piedade Araújo Sol 2021-02-08
Imagem Rishka 

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terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Quero espatifar as palavras

 Quero espatifar as palavras
desobstruir as gavetas e soltá-las
ao vento â chuva ao sol.

O poeta é um sábio mentiroso que
recolhe as palavras como se fossem beijos
com sabor a mirtilos.
 
Ou chora lágrimas de cristais puros quando
o poema se propaga
 
É vosso…
se não gostarem podem sempre ignorar.
 

©Piedade Araújo Sol 2021-01-27
Imagem : Nikolay Tikhomirov

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terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Detalhes


a sapiência que leio no teu olhar, apazigua o meu medo 
e o calor de um abraço teu em forma desse olhar, 
é só o que eu preciso.

Escrevo como um pássaro voa sem rumo
 
Sem razão ninguém me roube esse prazer 
de escrever em tudo, até nas águas 
serenas ou por vezes amotinadas. 

Deixem-me escrever e mesmo que ninguém leia, 
não faz mal, 
é jeito meu, apenas. 

E para não chorar, 
deixem-me voar nas palavras,
por vezes sem nexo (?) 

Ou do que só eu entendo e nunca ninguém quis entender. 

©Piedade Araújo Sol 2015-02-02
Foto:Desconheço o autor

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