terça-feira, 18 de janeiro de 2005

Um dia que não vem no calendário

Cheguei numa manhã sem madrugada
num dia que não vem no calendário
e vivi uma vida desvairada
com música amor e sol
dormi em esteiras duras
à luz do luar e passeei nua
por bosques por desbravar
nadei em rios frios
com os peixes a me acompanhar
bebi água em nascentes virgens
e suguei o suco de cocos ovais
comi frutos exóticos
de árvores verdes
amargos e doces
fáceis de mastigar
falei com as aves
até elas me entenderem
e levarem meus recados
ao mundo artificial
dancei ao sabor da aragem
me enlaçando ternamente
e fui criança mulher
ninfa desconhecida
num mundo por descobrir
aspirei o perfume de flores
verdes, azuis e amarelas
e cores por decifrar
e julguei-me ser uma delas
percorri montanhas e vales
montada numa gaivota e vi
que existia sementes por germinar
mas a chuva caiu suavemente
ao fim dum dia sem noite
porque as noites não são possíveis
num dia que não vem na calendário

domingo, 16 de janeiro de 2005

Recado

Vai e esquece se há algo para esquecer
Guarda a lembrança se vale a pena reter

Nada será como teria que ser
Mas o que fica acaba por ajudar a ter

As ilusões que ficam a corroer
E que o tempo se encarrega de amortecer

A esperança que não pode morrer
Que fica mais leve mas sem esmorecer

Vai e guarda a lembrança se vale a pena reter
Vai e esquece se há algo para esquecer