terça-feira, 28 de setembro de 2010

A Espera

Cadenciada – os ponteiros pachorrentos
Os segundos
Minutos
Horas
Ao longe
Os carros que passam
Velozes com gente dentro.

E agora

O nó que se enrodilha
Lento – asfixiante
Negro
A laringe dilacerando .

As palavras quietas – caladas na tarde
Na espera que espera
E morre anunciada
No relógio da torre – além
Da igreja encerrada.

E na noite os passos ressoam nas pedras
Nuas – gastas
Nas sandálias – dela - resquícios de areias
Areias que se escoam no tempo – no destempo
Da espera.

E agora
A noite longa …sem espera.

Foto:robert lubański


terça-feira, 21 de setembro de 2010

aromas

soletro, o silêncio enternecido do teu corpo
com o olfacto
ainda na pele amedrontada
que adeja no olhar cândido
do fogo debelado na tarde espantada.
.
as palavras suspensas, inflamam e
desabam desprotegidas na timidez
das horas – do tempo
que se evapora – anárquico
violento.
.
suave a beleza prostrada
os olhos semicerrados
um galopar de sentimentos
de quem afoita colher
um aroma num silêncio de

um corpo - o teu!

Foto:Agnieszka Motyka

terça-feira, 14 de setembro de 2010

os poetas


"A poesia, tal como a entendo, é inútil.
Para que terei então chegado aqui"
Nuno Judice
.
a poesia não é inútil!
inúteis sao todos os poetas
porque ninguém conseguiu ainda entendê-los.
.
inútil sou eu eu quando escrevo um poema
simples e cristalino
latejando de verdade
sofrendo nesta cidade tranquila.
.
inútil sou eu que clamo
a magia do poema feito
numa tarde inexplicavelmente quente de setembro.
.
inúteis sao os sonhos decepados
as palavras gastas
os gestos inexpressivos.
.
inúteis sao todos os poetas
porque ninguém quer
entendê-los.
.
Nota: Decidi publicar este poema que escrevi na década de 80 baseado numa frase de Nuno Júdice e após ler “da inutilidade dos meus dias “ da Boneca de trapos http://emsaltosaltos.blogspot.com/

Foto:Marta Szelewa http://plfoto.com/188751/autor.html

terça-feira, 7 de setembro de 2010

ainda dói

disseram que era verão
e era!
no entanto
… ainda dói .
.
recordar - depois -
todas as palavras reprimidas que não dissemos
- os afectos -
uma maneira diferente de olhar
e de ver as telas da vida que não pintaste.
.
sabes mãe… ninguém me avisou da dor
- ou da ausência dela -
dos resíduos do orvalho
que ficam no rosto
e não apagam a dor… e a saudade.
.
…ainda dói mãe
e a tua partida já foi há tanto tempo!
.
Foto: Verie Astharoth http://plfoto.com/zdjecie,martwa-natura,wij,2068636.html