terça-feira, 27 de abril de 2010

segredo



Trazido pela maresia

ecoaram - em mim

sussurros de um segredo

em laivos de azul .

Em pinceladas energéticas

Mudei-lhe as cores

para cinza e verde

Pintei uma aura – áurea

e ficou um segredo – só meu

Gosto de o deambular – imperceptível

Comigo

Incessantemente

E ele nem sabe que me escolta,

no destempo de mim,

e nos dias extintos – em marulhos,

de partículas finas – salgadas,

por vezes doces – dóceis

Elanço-o

e voo nas asas dos sonhos,

fragmentados,

de papoilas rubras

e polén - intoxicante

com aroma rebelde,

que esvoaçam e se extingam – além

onde o rio beija o mar

e onde a minha vista já não

consegue domar.



foto: Mycatherina

terça-feira, 20 de abril de 2010

E como se o poema de água

E como se o poema de água doce ou salgada com aromas de maresia, fosse um refúgio de ostras e de pérolas e de vento e de rios e de mar fosse escrito em segredo e sem tempo apenas com os sons que sobressaem das águas frias rebeldes, por vezes assassinas, e com as tintas invisíveis e sedosas das manhãs, e das noites e com a música das marés fosse escrito, uma sinfonia que um dia alguém se lembre de tocar e nem escrito, nem partitura nem pergaminho exista mas que, saísse da boca das conchas e dos búzios, e encantasse nos limites das margens dos rios aquele que te ama, ó musa, que em seu Museion se esconde e onde o Fauno te procura mas não pode ver-te, porque dissolvida estás nas algas que cobrem os segredos mais íntimos do amor intemporal que teces não esqueces procuras anoiteces amanheces no curso interminável das águas que escondem a cidade misteriosa das pérolas brilhantes, belas, mas tão melancolicamente solitárias como são todas as Musas...
Este poema é uma parceria de Piedade Araújo Sol e Eduardo Aleixo http://ealeixo.blogspot.com/ Lisboa 2010/04/20
Foto:Agniesszka Uziębło http://plfoto.com/50445/autor.html

terça-feira, 13 de abril de 2010

por momentos


.... por momentos – largos – eu gosto de absorver a luz – que entra pelas frestas da porta – e pinto – sempre – os azuis do céu espelhado no mar em pinceladas esbatidas –desenhando estórias que fingem os traços nem sempre seguros.
.
quase sempre abstractos – em poses imperfeitas – mas com aromas suaves, nuvens de seda e olhares surrealistas, em tons de ventos e tempestades – de mim – rasgadas em gatafunhos oblíquos.
.
e embriagada pela luz
ébria de cor
pinto-me num fado de areias perdidas e soltas
em areais de azuis!
.
Foto:Walter wely

terça-feira, 6 de abril de 2010

não me procures

Não me procures no rio
deixa-o correr livre para o
seu termo nupcial com o mar
(olha a cor e procura-me sob o véu) .
.
Já não tenho fronteiras
- o rio ainda tem -
e eu mal flutuo com pranchas
de tempo e de vento.
.
Um dia disseste que eu era uma ostra
e hoje eu caminho
respirando sal
num corpo carente do teu.
.
Vagueio por entre as marés
e sou pescador(a) de pérolas minhas
sem urgências
até as encontrar para ti.


Foto:MrWoland