terça-feira, 28 de junho de 2011

do teu corpo



Do teu corpo, guardo a cor
Em tons de areia
Da tua boca, guardo o sabor
A mirtilos
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Ainda sinto a aragem
Que nos beijou a pele
E nos levou a voar
No voo inopinável das gaivotas
No cheiro do sargaço
No prazer incendiado
Dos corpos assustados
Com a respiração apressada
.
Do teu corpo, guardo o sol
Em tons demorados.
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Foto: stoleclove

terça-feira, 21 de junho de 2011

Vou

Vou
Sem pressas no eco do vento,
Apenas com a convicção de chegar
Ao fim do percurso e navegar
Nas águas amotinadas desse mar
Que não é meu

Vou
Num barco feito de papel disfarçado
E, no leme, levo apenas
A vontade que leio nas cartas de navegar
Mas, na bússola, vou dependurada incognitamente
Para que os meus olhos alcancem o Norte
Sem medo de na rota me errar

Chego
Com um beijo em forma de coral
E sempre com o brilho verde no olhar
Em marés baixas ou altas
No levante das brumas
Da lua derramada no areal

Chego
E regresso-me
Às colinas, que, algures como eu,
Esperam o eco do vento
E que eu gosto, por vezes, de enlaçar
Com a convicção
De chegar desse mar que não é meu

  Foto:asiasido

terça-feira, 14 de junho de 2011

caimos na noite

Caímos indefesos na noite.
E a escuridão era um lençol de deslumbramento que nos enlaçava, arrebatadamente.
E as nossas mãos uniam-se, como uma seda, insondável e fina.
Tão fina que se desfazia em fragmentos de promessas mudas e ilusórias.
Apenas nós.
 E a noite era um rio de espelhos, onde ainda hoje me vejo reflectida.
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Foto: czarek BAIER

terça-feira, 7 de junho de 2011

Memórias

Carrega a perturbação dissolvida na correnteza do rio que corre acelerado para o seu terminus,com a angústia, que o espelho não traduz.

Sente e sabe que o cheiro dos lírios lembram a pureza das águas, mas não sabe situar o tempo do seu desabrochar, nem tão pouco a época das sementeiras.

Ao longe sente o latido alegre de um cão. Também em tempos teve um, ou dois, eram astutos e tinham olhos serenos.

Deixa-se dormitar na cadeira de baloiço defronte da janela com cortinas de linho e barra de renda.

Talvez amanha seja o dia certo para acabar de pintar a tela que se encontra esquecida no cavalete e que retrata o rio.

O rio que corre, e ainda lhe lava as mágoas.
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Foto:Ego.