quarta-feira, 31 de maio de 2006

As cores da noite



Desenho estrelas amarelas
deslizo o pincel
faço castelos de cores
nesta noite que cai
a lua matreira
aparece no cimo
onde emerge no final
um mar azul forte
com vagas a querer
saltar da pintura
que saiu do pincel
flutuando em espirais de cores
dum olhar que tudo traduziu
na noite agora repleta de cores…

sábado, 27 de maio de 2006

Partilha

Havia uma janela inacessível
Que dava para coisa nenhuma
Porque
A rua deixou de ter nome

Havia uns lábios mornos
Sequiosos de paixão
As luzes apagadas
O desejo consumado

E a janela estava aberta
Para a vida
Que decorria
Lá fora...

terça-feira, 23 de maio de 2006

O silêncio nas palavras



Poderia dizer tantas palavras
Mas neste momento
Tudo o que tenho para dizer
É este silêncio que não ouso infringir
Não sei se poderia dizer
As palavras que engenho no silêncio

Estás junto de mim
E enlaças-me apenas
Não quebrarei o emudecimento
Que se instaurou entre nós
Como muralhas de pétalas
Com aroma de rosas

E as rosas não existem aqui
Já nada permanece entre nós
Excepto o silêncio
E minha cabeça apoiada
sobre teus ombros magros

Sinto que teu olhar a deambular
E eu não ouso dizer
Que já não tenho palavras
porque o silêncio
Não me deixa quebrar
A prestidigitação deste momento...


as águas escorrem silenciosas
na limpidez dos meus pensamentos

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domingo, 21 de maio de 2006

Carta para um olhar poema





Teu olhar é um poema!

Eu escrevo cartas como quem esculpe um poema.

As cartas...As minhas! Não são cartas, nunca serão, porque as cartas são escritas para serem lidas, e eu escrevo cartas como se fossem poemas e poemas como se fossem cartas, e, é quando tudo está em silêncio absoluto que eu fico aqui escrevinhando, frases que não são cartas, nem poemas.

As minhas mãos nunca se enfastiam de escrever e as folhas brancas, magnetizam-me como se fossem um fruto proibido em alguma parte.

Eu podia dizer, ou antes escrever que o teu olhar era o meu poema, mas tu não me olhas mais, e o teu olhar é a única coisa que me restou para compôr o meu poema e as minhas cartas poemas.

E eu nunca quis que o teu olhar alguma vez tão-pouco me compreendesse, porque o teu olhar é a minha única recordação viva que tenho de ti.

Quando me olhaste eu fugi, e nunca mais te restitui esse olhar que era teu, e que nunca mais o terás de volta.

Porque é nele que eu mergulho nas madrugadas em que olho o mar dissimulado no teu olhar que eu roubei, e que me leva a escrever cartas que não são cartas e poemas que não são poemas.

Teu olhar enigmático em tons de cinza e verde!

Teu olhar é um poema, é o meu olhar poema...

sexta-feira, 19 de maio de 2006

És quase nada


Finjo que és quase nada
És só mais uma fotografia
Clandestina numa pasta
Dum arquivo do qual só eu
Conheço a palavra-chave
E minto-me cada vez
Que abro essa pasta e digito
A palavra que só eu sei
E que compõem
A password que é
O teu e o meu nome
Enredados
Escritos em letra minúscula

Finjo que foste quase nada
E afinal trago tatuado
Em meu subsistir
O teu nome em letra imperceptível
Que se retêm
Nas reminiscências dos meus dias

Finjo que és quase nada
e sei que afinal
és quase tudo…

quarta-feira, 17 de maio de 2006

Na margem

Reparte comigo
O teu último cigarro
E faz-me acreditar
Que não será
A última vez que estamos
Aqui na margem do rio Tejo
A ver as águas turvas
A correrem calmamente

Deixa-me acreditar que a brisa
Que me roça a face
É um enigma que me ensinarás
A desemaranhar, um dia

Ensina-me a escrever
Porque eu já esqueci
Como se escreve nas águas

Não me apetece ir
Nem me apetece ficar
Mas fico presa a navegar
Os meus pensamentos
Nesta primavera quente
Com cheiro de verão
Sem o ser

Acabamos o cigarro
Vamos embora!!!
Estou cansada demais
Para aprender…

domingo, 14 de maio de 2006

Tudo


Tudo o que te posso dar
Foi escrito
Nas areias dessa praia
As nossas pegadas
Foram cúmplices
E as únicas que o mar
Quis apagar

Tudo o que me podias dar
Foi escrito
Numa pentagrama que se perdeu
Nas areias dessa praia

Hoje as nossas canções
São múrmurios que ambos
Cantarolamos de boca fechada
E olhos semicerrados de prazer

Tudo o que nós vivemos um dia
Ficou aqui
Nas areias desta praia...

sexta-feira, 5 de maio de 2006

Quando


Quando o sol se despede
de um dia que findou
e os frutos maduros
caem desamparados
sobre a terra fecunda
Eu queria saber cantar
os poemas que escrevi…

© Piedade Araújo Sol 05-05-2006

segunda-feira, 1 de maio de 2006

Desatino



Que faço nesta cidade longínqua
Tão recôndita para mim
Onde a primavera não chegou
E onde paira um olfacto de mutismo

Que faço desta obscuridade
Que se envolveu em mim
Como um fumo de prostração
Onde a cinza se desfaz

Que faço quando tudo parece esquivar-se
Da minha retina óptica
E minhas mãos sentem a chuva
Que cai recatadamente sobre o asfalto

Que faço aqui desamparada
Amachucando entre meus dedos
O peso desta solidão
Nesta cidade que não é a minha....