terça-feira, 27 de maio de 2014

O medo

É à noite que carrego meus medos,
densos, com cores fortes que me desmaiam o ver.
Nessas alturas, reverto-os
e crio um esboço, unicamente meu.
Olho as estrelas
que, com  a sua minúscula luminosidade,
me trazem sons de uma melodia ilusória,
e que, embora inaudíveis,
chegam para me tornar um sorriso.
Por vezes, o medo é,
somente um espectro com cores,
que não me atrapalham,
e que consigo afugentar,
da minha retina.
Um dia, tentei pintar o medo.
Ele olhou-me e ciciou-me
com um esgar de repúdio:
- o medo não se pinta.
E eu sei que o medo não se pinta,
mas o pincel rodopiou,
e dele transbordaram cores e cores.
Cores.
Sabes?!
Eu sei!
O medo não se pinta
Mas eu pinto-o
para ele não tomar conta de mim
nem do desenho do meu
VER.
.
©Piedade Araújo Sol 2014-05-26

terça-feira, 20 de maio de 2014

Sou

Hera Aphrodite

Sou

Brado silenciado na noite
Na terra seca
No caminho tortuoso
No dia terminado

Sou

Árvore no chão
Sem ramais
Sem sementes
Sem sombra

Sou

Fragmento de vida
Em evasão
Fogo morno
Em combustão

Sou

Eu apenas
EU
e nada mais.


©Piedade Araújo Sol 2014-05-19

terça-feira, 13 de maio de 2014

Hoje o dia nasceu....

Oleg Oprisco
Hoje o dia nasceu, com a urgência nos meus dedos em escrever palavras soltas.
Antes o que escrevíamos guardávamos para nós, mas os tempos mudaram.
Na minha adolescência havia os diários, alguns até com um cadeado, que penso mais ninguém se lembra e era  mais fácil, mas, isso já não se usa.
Hoje existe o email o facebook e outras tretas, tão tretas, que apelidam de redes sociais, onde é tudo tão impessoal que até me faz confusão.
São sinais do desenvolvimento! Eu sei! Sei! Mas por vezes finjo que não sei, não adiro, e assim passo adiante e ponto final. Mas esta necessidade de escrever é minha e suplanta-se a outras necessidades vitais em mim.
E vou escrevendo palavras soltas que se afiguram importantes e depois de algum tempo, são apenas palavras escritas noutro tempo e que no actual já nada conseguem transmitir.
E depois acontecem coisas, tantos factos, que o ontem foi há séculos e o hoje já se afigura num  amanhã tão enigmático que já nada sabemos gerir.
E apenas ficamos nós e as palavras que eram terrivelmente importantes,e que  apenas sobrevivem em nós, dentro das memórias  que teimam em não morrer.


©Piedade Araújo Sol 2014-05-12