terça-feira, 29 de setembro de 2020

Setembro


Sei que me repito quando digo que Setembro é o meu mês, e até  pode haver várias razões ou motivos para que eu assim o prefira.
É o meu mês preferido para férias e nem sei bem mas acho que é um mês que me traz muitas benesses e talvez a mais relevante é porque nasci nesse mês.
Gosto de recordar quando gozava esse mês  naquela vila piscatória onde o pai trabalhava e se não nasci lá, foi por mera casualidade, ou talvez pesasse a escolha da minha progenitora, para que assim não fosse.
Mas, e sem esquecer esses detalhes, há outros tantos fundamentos que me faz pensar em Setembro como uma espécie de despedida do verão,e onde já se avizinha a nostalgia do outono embora as estações tenham levado uma grande reviravolta e já nada seja como antigamente quando ainda se sentia o sabor da mudança  de estação para estação. Hoje é tudo tao incaracterístico que até me faz um pouco de agitação.
Mas afastando tudo isso e acumulando outras tantas coisas, gosto de me sentar descalça na varanda da minha casa ao final da tarde e olhar o mar, só isso já me reconforta e faz-me respirar Setembro.
O meu mês!

©Piedade Araújo Sol 2014-09-22
Imagem : Ira Zhuyka Dzhul

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terça-feira, 22 de setembro de 2020

Diálogo ou monólogo comigo mesma

(imagem :Ruslan Bolgov)
Não me perguntes nada acerca de ontem ou o que comi ao almoço.
Para quê, nem te vou contar!

Acordei e só me apetecia ficar na cama
Mas a meu lado estava alguém
Que me pareceu a tristeza
Essa vilã camuflada
Que de vez em quando quer calcular
Forças comigo, mas está tramada
Porque eu não deixo.

Faço das tripas coração,
mas não quero que ela me abata.

Então! E como já eram horas de almoço
Dei um salto da cama para o chão
Que quase partia um pé
Respirei fundo e meti-me debaixo do duche
Cantando como um pássaro desafinado
Que até tive receio o vizinho do 4ºandar
Não viesse reclamar, enfim, se viesse
Não lhe abria a porta

Abri o roupeiro e tirei o vestido vermelho
Vesti-o e achei, que me está um pouco largo
E que ficava com um decote indecente
Mas não me importei
Não ia na CP não havia problemas
De me chamarem a atenção para as mamocas

Calcei os sapatos de salto alto
E saí para o dia

Desci a Avenida da Liberdade
E o meu almoço foi
Um sumo de laranja e uma tosta mista
Soube-me tão bem como se estivesse
A almoçar num daqueles restaurante de Cascais
Onde me costumavas levar

Sabes… quando tomei o café (sem açúcar)
Lembrei-me de ti, e vi a sombra da tristeza
A querer sentar-se a meu lado

Paguei a conta
Sacudi os cabelos e desci a Avenida
Com o meu vestido vermelho
Os meus saltos altos
E um sorriso maior que o sol

Sorrindo para fora
E chorando para dentro

©Piedade Araújo Sol 2020-09-13

inspirado aqui : https://brancasnuvensnegras.blogspot.com/2020/09/dialogo-comigo-mesmo-nao-me-perguntas-o.html#comment-form


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terça-feira, 15 de setembro de 2020

Poema louco


os pescadores da praia diziam que

ela era louca, mas só ás vezes,
um dia viram-na a dormir num barco ancorado na praia,
descalça e toda descabelada,
nunca entenderam, porquê.

na noite anterior ela tinha feito um poema louco,

louco, daqueles que não se podem divulgar,
e ela declamou-o à  janela,

mas, um anjo papudo de longas asas sobrevoou
arrancou-a da janela pelos cabelos(que eram longos)
e levou-a, pelos ares.

ela nunca mais se lembrou do poema,
nem de como acordou num barco,
coberta pelas redes, e guardada pelos
pescadores velhos da praia.

©Piedade Araújo Sol 2020-08-16
Inspirado aqui : https://brancasnuvensnegras.blogspot.com/2020/08/salamanca-hoje-farei-um-poema-louco-e.html#comment-form

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terça-feira, 8 de setembro de 2020

O grito


Grito com a boca cerrada
e os punhos contraídos.

Mas meu grito não sai
extinguiu-se, e minha voz se perde
no eco das montanhas
confunde-se com as nuvens
que embirram em cobrir o céu.

Debato-me e imploro
Não quero
Não sou
Não estou

e engano-me
vou por onde não quero
pois nunca terei audácia
para ir por onde quero

Esta não sou eu,
é a outra.

E o grito sai trespassando a noite
que se enrodilha comigo
e em tudo o que existe
sem existir

e onde eu a outra

sem sentir
abraça o vácuo
da encenação
©Piedade Araújo Sol 2005-09-04
Imagem : Victor Hamke

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terça-feira, 1 de setembro de 2020

Prisioneira, ou tão-somente “A Fugitiva dos Relâmpagos”


Cativa do vazio que lhe transbordava a alma, as interpelações, quedavam-se a pairar no ar, sem réplicas nem tão pouco elucidações se as houvesse.

Dissimulava muitas vezes a realidade. Era mais cômodo, e não aguilhoava tanto.

Administrava os pressentimentos, e por vezes tentava mover as pedras que dispunha como se fossem dados num jogo viciado e que não se conhece nada, absolutamente nada e para o qual nunca estaremos, meramente preparados.

Mas ela fazia parte do jogo e sem ela o jogo não podia prosseguir.

Não fossem esses estados de alma, por vezes catatónicos e já tinha ido voar com os pássaros além-mar.

Numa noite inusitada de verão em que ribombaram relâmpagos, ela desapareceu.

E os velhos da aldeia, juraram, que no dia seguinte viram-na libertada de grilhetas a voar com os pássaros.

E aquele local da aldeia, ainda hoje é conhecido pelo lugar da “fugitiva dos relâmpagos”

Autor ©Piedade Araújo Sol 2013-08-31
Imagem : Alex Krivtsov

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