Andei tão repleta, das caminhadas que fiz
e das que não consegui fazer,
que o sofrimento dos desaires e o orgulho dos triunfos
encheram-me os pés, e as sandálias de pó,
quiçá já lama endurecida.
No mapa incerto do tempo e do espaço,
na vontade de singrar
e lutar por tudo aquilo em que acreditava,
tentei _______________ caí.
E outras tantas vezes me levantei.
Passou muito tempo,
muitas luas e marés.
Hoje, olho transversalmente,
como se perscrutasse um espelho
que já nada, ou quase nada devolve.
E onde a memória não me trai
é no desejo de não voltar atrás.
Pois lá, lá é apenas um lugar inóspito,
onde nem casa, nem lembrança,
nem rasto nosso, sobreviveu.
Tudo sucumbiu,
como o pó das estradas,
das areias nos desertos,
na ausência de mim, de nós,
dos que ficaram, dos que partiram.
Hoje, quando entro,
num lugar a que chamo templo,
descalço as sandálias impregnadas de pó.
Ergo as pálpebras,
tento acender a óptica,
mas só o cansaço me escolta.
Doem-me os joelhos.
Permaneço de pé,
na frágil borda da incerteza.
E à minha frente, somente ruínas:
fabricadas pelo tempo, e pela ausência.
©Piedade Araújo Sol 2025-06-03
Imagem : Sebastian Luczyuo