No Espelho das Horas
Talvez...
amanhã não seja outro dia,
apenas mais um lamento,
salpicado de desesperança,
no peito gasto do tempo.
O amanhã nascerá no horizonte,
e as horas mastigarão a mesma inércia,
de um mundo perturbado,
em completo desacordo.
Portas e janelas se abrirão,
e pairarão os ecos de ontem,
lentamente, como os ponteiros,
de um velho relógio na parede.
A esperança, ausente, jaz
em sombras que se arrastam,
presas ao passar do momento,
em mapas rasgados pelo tempo.
E o sol nascerá sempre igual,
Talvez para alguns, seja diferente,
fiapos de calor em transe,
sem promessa de mudança.
E o tempo, esse velho cego,
repetidamente continuará a tocar,
a mesma cantiga tão gasta,
sem saber que já ninguém dança.
© Piedade Araújo Sol 2025-04-28
Imagem : Melissa Vincent
Etiquetas: Direitos de autor, Piedade Araújo Sol, poesia