terça-feira, 15 de julho de 2025

Mar de Dentro

 

Não limpes a lágrima
- chora-a até ao fim
hajota


há dias em que os tumultos
se entranham devagar em mim,
como se um mar me habitasse.

do céu, nem um bulício de bem-estar,
nem a mais ténue luz de serenidade
se espreguiça dentro de mim.

forma-se um véu de sombras —
cinzentos baixos roçando o breu
em labirintos sem saída.

dentro de mim é o caos:
um destino sombreado,
com lágrimas a roçar-me o rosto.

talvez, caindo livremente,
sejam apenas mais uma gota
na imensidão do mar que me habita.

©Piedade Araújo Sol 2025-07-08
Imagem : Marina Stenko

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terça-feira, 8 de julho de 2025

a elegância do silêncio

 

em dia nublado,
vai com a leveza,
de quem sabe escutar os silêncios,
entre as folhas da natureza.

às vezes, no semblante das pessoas,
incógnitas como ela,
com a alma inquieta,
como manda a etiqueta dos poetas.

de elegância em destaque,
e o coração aos saltos,
cheia de sol por dentro,
abana, mas não cai.

abraça o verão,
mesmo quando há sombra,
e o olhar não se distrai.

ouve os silêncios,
que se tornam poesia,
em pautas múltiplas, talentosas.

com eles, constrói um silêncio,
cheio de ouro,
como já dizia sua mãe:

— o silêncio é de ouro.

Autor ©Piedade Araújo Sol
Imagem :Ellierich

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terça-feira, 1 de julho de 2025

Plantando Sorrisos no Escuro

 

Espera que o tempo
seja libertação para a incerteza
que te assola e corrói
dia após dia.

Talvez jamais sejas socorrido
pela resposta oculta no tempo
e nos labirintos sombrios
dos dias encobertos.

Mas não desanimes,
mesmo que uma lágrima se desprenda,
limpa-a com firmeza,
e planta um sorriso nos olhos e no rosto.

Caminha por percursos seguros
mas, se escolheres os trilhos,
redobra a cautela,
para que se tornem mais certeiros

Respira, mesmo que o ar te sufoque —
há coisas que a memória negligencia,
e só pequenos vestígios restam,
sabes que um dia tudo se reduzirá a pó.

Até lá,
equilibra as cores da vida,
tão cheia de mistérios,
incertezas e esperas.

© Piedade Araújo Sol 2025-06-30
Imagem : Kyle Thompson

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terça-feira, 24 de junho de 2025

Sopro de Poesia

Um poema que nasceu do encontro entre palavras e emoção,
como se o vento soprasse poesia dentro do peito

 

O vento das palavras
e a maré das emoções
surgem, por vezes,
e transformam sopros em poesia,
marés em memórias idas.

Hoje, ao desembrulhar
as metáforas de um poema
de um certo Poeta,

senti que as suas palavras,
serviram de lenço,
quando o peito transbordou,
e os olhos se encheram de linfa.

A sensibilidade é uma bússola
rigorosa
neste mar de sentimentos
e recordações.

Que as lágrimas sejam de admiração
pela vulnerabilidade dos vocábulos
espalhados em sopros.

©Piedade Araújo Sol 2025-06-20
Imagem : Jonas Hafner

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terça-feira, 17 de junho de 2025

No Rasto da Memória

Junto letras, esboço palavras.
Desbravo caminhos sem medo,
recomendo trilhos
para que os leias no silêncio.

Que te façam espião,
bálsamo de memórias,
de desejos,e olhares,
ou mesmo de lugares.

No rasto da memória.
Um dia, o silêncio te trará escuta,
e, com a lembrança,
caminhos novos.

©Piedade Araújo Sol 2025-06-16
Imagem : Anka Zhuravleva

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terça-feira, 10 de junho de 2025

Insónia

 

No avesso da madrugada,
___________a insónia.

Agarrou uma centelha
do que estava ao contrário.

___________O sono voou,
e o avesso que era
mais avesso ficou.

___________A insónia pernoitou

©Piedade Araújo Sol
Imagem : Lennart Bader

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terça-feira, 3 de junho de 2025

Depois do Caminho

 

Andei tão repleta, das caminhadas que fiz
e das que não consegui fazer,
que o sofrimento dos desaires e o orgulho dos triunfos
encheram-me os pés, e as sandálias de pó,
quiçá já lama endurecida.

No mapa incerto do tempo e do espaço,
na vontade de singrar
e lutar por tudo aquilo em que acreditava,
tentei _______________ caí.
E outras tantas vezes me levantei.

Passou muito tempo,
muitas luas e marés.
Hoje, olho transversalmente,
como se perscrutasse um espelho
que já nada, ou quase nada devolve.

E onde a memória não me trai
é no desejo de não voltar atrás.
Pois lá, lá é apenas um lugar inóspito,
onde nem casa, nem lembrança,
nem rasto nosso, sobreviveu.

Tudo sucumbiu,
como o pó das estradas,
das areias nos desertos,
na ausência de mim, de nós,
dos que ficaram, dos que partiram.

Hoje, quando entro,
num lugar a que chamo templo,
descalço as sandálias impregnadas de pó.
Ergo as pálpebras,
tento acender a óptica,
mas só o cansaço me escolta.

Doem-me os joelhos.
Permaneço de pé,
na frágil borda da incerteza.
E à minha frente, somente ruínas:
fabricadas pelo tempo, e pela ausência.

©Piedade Araújo Sol 2025-06-03
Imagem : Sebastian Luczyuo

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terça-feira, 27 de maio de 2025

Poeta Incógnito

 

Conheço um Poeta de alma leve,
que sorri e brinca com as palavras,
como se fossem flores frescas,
trazidas em sementes pelo afecto do vento.

Traz sempre um sorriso a esconder a mágoa,
fala com os olhos e deixa mensagens
em tudo o que toca, e no que imagina,
em metáforas soltas por ruas vagas.

Lembra a manhã pela claridade,
o dia pelo sol, a tarde solarenga,
e delira com a chuva que cai
em pleno verão, purificando a alma.

Gosta de dançar à chuva,
de cantar ao espelho e olhar as aves,
nesse mundo onde pulsa
como mensageiro de paz e esperança.

Conheço um Poeta tão hermético
quanto transparente, que espalha saber,
calma exterior, vida e amor.
Um Poeta que nem sabe que o é.

©Piedade Araújo Sol 2025-05-27
Imagem : Brooke Shaden

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terça-feira, 20 de maio de 2025

Quando o Silêncio Fecha a Porta

 

O fim das demandas,
pode ser pedra lançada,
arma em punho,
corpo arquejante,
afundado no sem nexo,
alheio à lucidez.

Há tanto mistério oculto,
tantas vozes caladas,
corpos enfraquecidos,
sonhos desfeitos,
na intimidade cruel do silêncio.

Não digas o que não sentes.
Não desperdices palavras.
Não penses por ninguém.
Não descures a delicadeza.

Nos dias que se esvaem,
nas noites que começam,
e nas dores que persistem,
quando o silêncio fecha a porta.

©Piedade Araújo Sol 2025-05-20
Imagem : Martin Marcisovsky

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terça-feira, 13 de maio de 2025

Casa Sem Trancas

pela janela entreaberta,
a primavera sopra uma brisa,
com cheiro de terra molhada,
e a vontade de dançar descalça,
na areia da minha praia,
entoando canções de sol,

queria escrever um poema,
talhado em brisa marítima,
com aroma de maresia,
porque a poesia, para mim,
é uma casa sem trancas,
onde terás sempre entrada,

sou eu quem guarda a chave,
mas se teus passos ressoarem,
no silêncio e nas metáforas,
a porta se abrirá nas poalhas,
da poesia que espalhei por aí.

Autor : © Piedade Araújo Sol 2025-05-13
Imagem : Ilya Kisaradov

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terça-feira, 6 de maio de 2025

Canto porque me apetece

Eu, que não sei cantar,
canto à chuva,
canto no duche
e quando me apetece.

Canto porque sim
mesmo fora do tom,
desafinada ou não,
vou com alma e coração!

E lá vou eu,
com voz de pardal ao léu,
a rir-me de mim:
sou estrela, sou festim!

Se o mundo me escuta
ou foge a correr,
pouco me importa,
eu só quero é viver!

E troco o passo,
e bato o pé:
quem canta é quem é!
A tristeza já lá vai!

©Piedade Araújo Sol 2025-04-28
Imagem :  Shelby Robinson

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terça-feira, 29 de abril de 2025

No Espelho das Horas

Talvez...
amanhã não seja outro dia,
apenas mais um lamento,
salpicado de desesperança,
no peito gasto do tempo.

O amanhã nascerá no horizonte,
e as horas mastigarão a mesma inércia,
de um mundo perturbado,
em completo desacordo.

Portas e janelas se abrirão,
e pairarão os ecos de ontem,
lentamente, como os ponteiros,
de um velho relógio na parede.

A esperança, ausente, jaz
em sombras que se arrastam,
presas ao passar do momento,
em mapas rasgados pelo tempo.

E o sol nascerá sempre igual,
Talvez para alguns, seja diferente,
fiapos de calor em transe,
sem promessa de mudança.

E o tempo, esse velho cego,
repetidamente continuará a tocar,
a mesma cantiga tão gasta,
sem saber que já ninguém dança.

© Piedade Araújo Sol 2025-04-28
Imagem : Melissa Vincent

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terça-feira, 22 de abril de 2025

Poema para um Mundo em Sussurros

 

Há dias em que as palavras se recolhem.
Outros, em que precisam sussurrar o que nos vai na alma.
Este é um poema nascido do silêncio e da inquietação,
um murmúrio para um mundo cansado de ruídos..

As palavras deixam ecos,
e assalta-nos uma vaga memória
que inquieta a sornice dos dias.

Aprisionamo-la no fundo do baú
e vamos gerindo, dia após dia,
o que em nós não encontra conforto.

Rendemo-nos, sem forças,
quando a luta não nos pertence
e nada parece ao nosso alcance.

Ouvimos, aqui e além,
palavras tristes e dolorosas,
imagens duras que nos chegam

com a nudez dos factos,
revelações cruéis e indignas
que nos afectam pesarosamente.

Somos todos peregrinos de momentos inglórios,
de caminhadas sem fruto,
que nos transgridem até a memória.

Somos vozes que choram — caladas ou gritantes.
Somos marionetas autênticas
de um circo abandonado às intempéries.

Que a voz se transforme em som.
Que sejamos palavras com aconchego,
e nunca nos tornemos peso.

© Piedade Araújo Sol 2025-04-21
Imagem :Kindra Nikole

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terça-feira, 15 de abril de 2025

Poema ao sabor do vento


Numa tarde de vento,
parecendo um lamento,
compondo o poema que criei.

Era verão, e lentamente,
presa à incerteza, acreditei
na espera esperançosa.

Mas o momento era apenas
um poema desenfreado,
louco, entre cinzas, renascendo.

A memória traduz um sonho,
que o ensejo compreendeu,
e meu poema então nasceu.

Vi pássaros a voar em liberdade,
às vezes em voo alterado,
outras, em ritmo equilibrado.

E vi meu poema ser levado pelo vento,
sem dó nem piedade,
sem mentira nem verdade.

© Piedade Araújo Sol
Imagem : Brooke Shaden


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terça-feira, 8 de abril de 2025

Ressurgir

 

Estendi a dor, indolente, sobre a mesa de jantar.
Em seguida, com o mesmo gesto, espalhei a alegria,
e polvilhei tudo com esperança.

Cantei uma canção de embalar,
suave como o murmúrio do vento,
numa voz melosa ___ acariciando as cordas vocais.

Contrariei a perturbação do dia,
moldando um poema ___ no peito do ímpeto,
nos desencontros do tempo.

Talvez amanhã ___ eu sinta o sal do mar,
na pele renovada,
na esperança renascida.

Talvez a dor se desfaça.
Talvez a alegria regresse,
e, entre os atropelos do dia,

um sol louco me embale,
para que o rosto ganhe cor,
e o corpo outro sabor.

E a boca entoe uma nova canção,
em maviosidade de esperança,
aliada a um sorriso de paz.

Autor : © Piedade Araújo Sol 2025-04-07
Imagem : Cristina Coral 

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