terça-feira, 29 de julho de 2025

Sobrevivência de Sentires

Desse amor, puro e, no entanto, sensual,
agridoce e quase cítrico,
aromático como a terra molhada,
e que ficou doendo cá dentro.

Foi quase uma honra caminhar contigo,
em silêncio — como quem não sabe
nem quer saber
do que pode ou vai acontecer.

Seremos reais, talvez...
ou apenas mundo de palavras,
enroladas no peito
de uma estória por contar.

Ou o poema que ainda não foi escrito:
com palavras leves ou intensas,
enredos suaves ou selvagens,
sobrevivência de sentires.

E ficou aquele abraço tão terno,
as mãos entrelaçadas,
as ruas calcorreadas,
os enigmas desentrançados.

Sempre que quiseres,
solta o sentir — eu sei ouvir;
e, se tiver que ser,
também sei calar.

© Piedade Araújo Sol 2025-07-29
Imagem :Ilya Kisaradov 

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terça-feira, 22 de julho de 2025

arrepio

o teu corpo
era um idioma novo
com gramática estranha
sílabas que os meus lábios
ainda não sabiam soletrar.

enleada na teia dos teus segredos,
odores inebriavam-me as narinas,
os sentidos ___ em desnorte.
as mãos tremiam, incertas:
não sabiam onde pousar,
nem o que procurar.

era como navegar
ao leme de um barco
mar adentro sem cartas de marear.

éramos jovens.
tão jovens, tão puros
que o arrepio tomou
conta do corpo
e do instante.

©Piedade Araújo Sol 2025-07-21
Imagem : Viivienne Bellini

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terça-feira, 15 de julho de 2025

Mar de Dentro

 

Não limpes a lágrima
- chora-a até ao fim
hajota


há dias em que os tumultos
se entranham devagar em mim,
como se um mar me habitasse.

do céu, nem um bulício de bem-estar,
nem a mais ténue luz de serenidade
se espreguiça dentro de mim.

forma-se um véu de sombras —
cinzentos baixos roçando o breu
em labirintos sem saída.

dentro de mim é o caos:
um destino sombreado,
com lágrimas a roçar-me o rosto.

talvez, caindo livremente,
sejam apenas mais uma gota
na imensidão do mar que me habita.

©Piedade Araújo Sol 2025-07-08
Imagem : Marina Stenko

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terça-feira, 8 de julho de 2025

a elegância do silêncio

 

em dia nublado,
vai com a leveza,
de quem sabe escutar os silêncios,
entre as folhas da natureza.

às vezes, no semblante das pessoas,
incógnitas como ela,
com a alma inquieta,
como manda a etiqueta dos poetas.

de elegância em destaque,
e o coração aos saltos,
cheia de sol por dentro,
abana, mas não cai.

abraça o verão,
mesmo quando há sombra,
e o olhar não se distrai.

ouve os silêncios,
que se tornam poesia,
em pautas múltiplas, talentosas.

com eles, constrói um silêncio,
cheio de ouro,
como já dizia sua mãe:

— o silêncio é de ouro.

Autor ©Piedade Araújo Sol
Imagem :Ellierich

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terça-feira, 1 de julho de 2025

Plantando Sorrisos no Escuro

 

Espera que o tempo
seja libertação para a incerteza
que te assola e corrói
dia após dia.

Talvez jamais sejas socorrido
pela resposta oculta no tempo
e nos labirintos sombrios
dos dias encobertos.

Mas não desanimes,
mesmo que uma lágrima se desprenda,
limpa-a com firmeza,
e planta um sorriso nos olhos e no rosto.

Caminha por percursos seguros
mas, se escolheres os trilhos,
redobra a cautela,
para que se tornem mais certeiros

Respira, mesmo que o ar te sufoque —
há coisas que a memória negligencia,
e só pequenos vestígios restam,
sabes que um dia tudo se reduzirá a pó.

Até lá,
equilibra as cores da vida,
tão cheia de mistérios,
incertezas e esperas.

© Piedade Araújo Sol 2025-06-30
Imagem : Kyle Thompson

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