terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Os Meninos Sem Natal

 

O Natal celebra o nascimento
do Menino Jesus.
Mas sinto um vazio imenso,
pois nem todos podem festejar.

O Natal se esvaiu na indiferença
dos senhores que semeiam a guerra,
aniquilando vidas inocentes
e deixando um rastro de dor.

Do outro lado do mundo,
lágrimas invadem nossa retina:
fragmentos de imagens cruas,
meninos sem Natal.

Dizem que é Natal,
que o Menino Jesus nasceu,
tempo de montar o presépio—
mas seria mesmo Natal?

No silêncio de mim,
montarei o presépio.
Mas, este ano, não será perfeito:
não colocarei o Menino Jesus.

Em tributo aos meninos sem Natal
©Piedade Araújo Sol 2012-12-23

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terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Dimensão da amizade

Tudo o que se disser sobre a amizade,
não caberá jamais dentro do poema,
porque ela é uma dança de nuances,
uma mistura de estações,
as cores do arco-íris,os aromas da natureza.

São primavera nas flores que brotam,
verão no calor que embala,
outono nas árvores desnudadas,
inverno no calor que aquece o frio.

Meus amigos são constelações,
ligados por fios invisíveis em mim,
são apoios inexcedíveis, são partilha,
amor e companhia ,o meu porto de abrigo imenso.

Mesmo longínquos,
os mares não apagam seus nomes
escritos no meu coração, criam memórias,
tecem laços que o tempo não desfaz.

Por isso, tudo o que escrevo sobre a amizade,
ainda é pequeno demais para contê-la,
para entrelaçar saudades, do abraço e do beijo,
e nunca caberá dentro do meu poema.

Autor  ©Piedade Araújo Sol
Imagem : Laura Zalenga

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terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Dias de recomeço

Entrei no dia com ideias coloridas, e o dia, mesmo zangado, hesitou. Respirei fundo e, em modo zen, à deriva do vento, vi suas correntes levarem nuvens pesadas, abertas ao sol.

O dia insistia em seus tons cinzentos, mas um reflexo dourado surgiu ao longe. O frio, travesso, tentou se infiltrar, mas envolvi-me em lembranças quentes. 

Sentei-me num banco de pedra, acolhida pela poesia dos dias passados, sempre perspicazes.

E enlacei a poesia que me acolhe, a cada instante, mesmo quando o mundo se afasta.

Reconheci a força das cores escondidas em mim.

Se um dia te perderes, vem. Sou invisível — mas estou. Eu, sentada, neste banco de pedra, inventando dias mais belos, e mais coloridos.

©Piedade Araújo Sol 2024-12-09
Imagem : Jonas Hafner

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terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Cativa de um casulo

É no silêncio da noite que ela se liberta,
uma alma velada, presa em sombras cúmplices,
tecida de metáforas e segredos sussurrados,
nas dobras insones da escuridão,
ela inventa um voo nocturno, banhada pela lua.

Ninguém vê, ninguém ousa desvendar...
sob estrelas ofegantes, cúmplices do seu desejo,
envolta no perfume ardente da maresia,
ela transforma-se,
para além desse casulo.

Entre véus de tule e seda, dançando com o vento,
não é mais uma prisioneira.
É uma mulher que queima, que esvoaça,
que quebra o silêncio em suspiros,
e atravessa o abismo dos seus próprios mistérios.

© Piedade Araújo Sol 2024-12-02
Imagem :Josephine Cardin 

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