terça-feira, 26 de novembro de 2013

dos voos em mim e de mim

SIMON BIRCH


hoje, entrei no dia com uma letargia infiltrada em mim que nem me identificava.
a insipidez da alvorada deu lugar a um inexistir de projectos onde o sonho se esmaecia nos confins de todo o meu ser.

exausta e cega de estímulos, olhei procurando uma cor que me desse um afago num despertar contido de belezas.

e dei uma pirueta e outra e mais outra.

se bem que, com muito e redobrado esforço, consegui ver os cinzentos mesclados de rosa e os negros em azuis e, numa miscelânea de cores inimagináveis, eis que o dia, afinal, é tão-somente aquilo que eu quiser que ele seja.

abraço as palavras, desenho-as, apago as impurezas que a virgindade do papel não quer, pincelo-as em cores vivas e fortes, esbato-as, apago-as, volto a colocar outras e outras e mais outras.

o dia é outro.
e eu sou outra.
o vazio que congeminei deu lugar a um espaço cheio, amplo mas, onde e sempre, cabem todos os pensamentos positivos.
e daqui envio-te o meu abraço no azul desse céu e desse mar.
.
©Piedade Araújo Sol 2012-11-26

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Anjo na praia

Kamil Vojnar

não sei se sabes. acho que não! mas por vezes transmuto-me de ave/anjo e com asas emprestadas, vou, em voo raso quase eco, quase silêncio, numa pausa, a planar os azuis, já quase,

ao luar

e  no silêncio gosto de falar de ti…por isso, esta noite estive a falar de ti…da cor dos teus olhos, que se assemelham a um lince, do teu cabelo rebelde, e no entanto tão macio, do teu rosto…as emoções que se contraem em sorrisos e algumas vezes (muitas) em momentos inexpressivos e misteriosos como é por vezes tudo o que te (nos) rodeia…

são conversas silenciosas entre mim (e ninguém), enigmáticas e onde as ternuras, espalhadas, na quietude da noite, fazem-me imaginar que tu és uma parte da maresia que me perfuma, e por vezes (muitas) és apenas a vaga que beija a praia em noites de tempestade...

©Piedade Araújo Sol 2013-11-19                                                                

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terça-feira, 12 de novembro de 2013

Um salto fora de tempo

Um salto fora de tempo,
na avidez da fuga em contumácia.

Por entre as águas frias, sossegadas
evasivas, sem convicção
emaranhada num tempo de nada,
numa espiral de ausências em fios de cadência,
rendida,
no esquivo dos prenúncios,
que cederam como areias lúbricas,
por entre os dedos (nossos).

Obstando tudo até a lucidez,
nesse dia os pássaros,
desocuparam os seus ninhos,
e adejaram fora de tempo,
e na vigília das horas transtornaram,
todos os voos e o céu ficou (mais) nublado.

Tinhas nome de gente,
e afinal eras apenas um gato,
que queria ser como nós, e como os pássaros.

©Piedade Araújo Sol 2013-11-11

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Oração em pleno voo

Matylda Koneca

Sem sequer pensar 
eu ascendo os degraus
e lanço-me aos céus
nesse meu voo nem seguro os cabelos
que se soltam ligeiros
como flâmulas
entre a amenidade das flores
e o aroma dos frutos outonais.
.
Ao subir
a paz e a esperança invadem-me
e deparo com  campos de girassois
e cores multicores
no devaneio  impensado
solta-se da boca um beijo
rasgando os céus.
.
Sei que na minha oração
uma luz celestial
tão cândida e serena como
o meu rosto
se projectará
nos confins do universo.
.
Amanhã não sei dos voos,
porque só o hoje prevalece.
.
©Piedade Araújo Sol 2013-11-05