na espera anunciada e não desejada desfio os meus pensamentos desviados em farpas de mágoas que nem ouso aprofundar.
a sala é enorme com espectadores mudos alitos que desfiam pesares absortos num mutismo envergonhado e previamente imposto sem regras sabe a coisa nenhuma, este estar aqui, e abertos os olhos de espanto nada sobeja.
Algures um quadro luminoso com números ,códigos destinos, tão impessoal acho que já nem sei ler os números as letras baralham-se as letras são números e os números são letras.
Serão? não sei! já nada sei eu só quero ir eu só quero chegar. e como dia a canção:
A imagem que o espelho reproduz não é a minha. Doem-me as articulações dos dedos e as veias das minhas mãos parecem querer romper a pele seca e desidratada que ainda me cobre. As palavras que tento escrever vagueiam incrédulas e dispersas, formando sulcos nas páginas de onde não se podem ler as suas entrelinhas.
Como se quisesse atear-me a memória, uma aragem lúcida vinda da rua abraça-me pela janela e uma leve humidade parece infiltrar-se nos meus ossos, numa imitação virtual do longínquo clima sitiado na ilha.
Lembro tanta coisa. Ele tinha a sabedoria dos anciães do templo. Não que fosse crente. Não era! Mas as palavras saíam da sua boca como se fossem extraídas dalguma brochura, de cujo código ele já sabia as respostas mesmo antes de as perguntas serem formuladas.
Tinha o olhar vivo do fogo que parecia querer incendiar as matas escondidas, em terrenos recônditos e inóspitos, e no entanto também tinha a calma melancólica e cristalina das águas do riacho.
Gosto de o recordar e, por vezes, ainda voo nas suas palavras como se fossem asas dum sonho feito gaivota, carregado de sons e de cheiros que se foram perdendo com o passar do tempo já ido, mas não esquecido. Nessas recordações ainda não esqueci a explicação que ele dava sobre a existência do ser e sobre a nossa própria existência.
Sei que de nada serve estar para aqui a escrever, pois as palavras ficam somente aqui, difusas, para nunca serem lidas, e no entanto sei que nos mistérios ocultos da vida tudo ainda faz sentido.
Hoje vivo a serenidade da partida e da calma que ficou. Sinto apenas o orvalho que se desenha nos meus olhos como um cenário de recordações em cadeia, pérolas sentidas em telas de cristal….