a fundo perdido
Sem sequer o entenderes,
acho que sempre foste meu.
E eu tua, quando as mãos se enlaçavam
e os corpos se fundiam através dos lábios,
rios que primeiro se encontravam
até se deitarem num único mar levantado.
A tua (nossa) rebeldia contagiante
era a chama que nos detonava.
E, amar em fogo perigoso,
era tudo ou somente o que nos restava
quando tanto mais havia para amar.
Sem o sabermos, foste meu.
E eu tua! Por querer,
renegávamos a partilha consumada,
mas ansiando a nova entrega, sem datas na luz
e sem variações inesperadas de marés.
Se não te tenho, o tempo fica inquieto.
Invento quimeras no espaço por ti abandonado,
onde o odor almiscarado se demora,
enraizado, das mãos às narinas desprotegidas.
Nunca haverá correntes que te consigam prender.
Nem a mim, e eu jamais sentirei que és ou foste meu
(e eu tua).
Por isso, mesmo que nunca te sintas meu,
nem eu tua, nada importa,
se tudo faz parte
de um investimento a fundo perdido em nós.
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