terça-feira, 25 de novembro de 2025

A Minha Poesia

 
A minha poesia não vive de pressas,
nem tampouco de rimas e regras,
de pressupostos ou afins.
 
Vive ao ritmo do coração,
nas estações que por mim passam
mansas, ou turbulentas.
 
Vive com a luz das estrelas,
com o esvoaçar das aves,
com seus cantos ao alvorecer.
 
É escrita quando a inspiração chega,
como um grito de guerreiro
ou o sussurro do meu anjo da guarda.
 
Pode ser glória,
ou cântico de templo,
a acompanhar o sino de finados.
 
Urge um silêncio cavado,
um caminho de contemplação,
uma oração em surdina.
 
Por isso, quando um grito se impõe,
não o silenciam;
e, quando um canto se levanta,
ergue-se comigo.
 
Acompanhem-me nesta jornada —
de quem ama e vive
a poesia, sem limites nem dogmas.
 
©Piedade Araújo Sol 2025-11-24
Imagem : Alex Stoddard

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terça-feira, 18 de novembro de 2025

Noite

Há dias que guardo na memória
cores que inundam o meu ser,
e moldo a meu gosto
quando o momento pede.

Por vezes, um vazio caminha comigo,
ou uma sombra impertinente
faz questão de surgir —
com traços sempre renovados.

Mas é à noite que tudo desaba,
preenchendo silêncios e vazios
com mesclas de fantasia;
inventamos fiapos de calma,
para que o coração não desabe também.

© Piedade Araújo Sol 2024-11-17
Imagem :Brooke Shaden

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terça-feira, 11 de novembro de 2025

Outono em Mim

 
Por entre os caminhos segui em frente, passos que dei sem conta, sem hora marcada, sem rumo.

Não partilhei contigo os silêncios, porque era mais confortável sentir as minhas mãos entre as tuas.

As ruas não me parecem iguais como quando ia contigo; agora são longas e estão cobertas de folhas.

Deve ser da estação do outono ____ou é o outono instalado em mim.

Não me perguntes o meu nome, não quero que me digas que já não lembras; assim, ainda fico na incerteza.

E não sei se a dor é maior ou menor, mas eu não esqueci o teu nome _____ e isso, se não me dá conforto, ainda me dá certezas de que tudo foi um momento, ou vários, que deixarei como legado nas minhas memórias em carne viva.

Porque me engano e nego, e sei que me engano, e vou em frente, seguindo pelos caminhos que descubro por entre os dias em que encubro a falta de ti.

Autor ©Piedade Araújo Sol 2025-11-10
Imagem : Brooke Shaden

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terça-feira, 4 de novembro de 2025

Um sonho numa noite de Outono

Os anjos fizeram gazeta
e vieram fazer de DJ.
Com vozes de anjos traquinas comunicaram:

Luz baixa,
chão a pedir passos decididos,
e que comece a dança!

Que se abram as cortinas do universo
e que a poesia dê lugar ao ritmo,
porque hoje os poetas vão dançar!

Podem escolher o palco — sala, cozinha, corredor, varanda,
rua principal da cidade —
e que cada gesto seja verso
e cada batida, liberdade.

Hoje não é noite de lapidar palavras:
é noite de balançar a alma,
de girar ao som de uma valsa,
um tango
ou simplesmente voar.

E ao terminar, todos os poetas,
deitados numa nuvem macia-como-sonho,
a balançar os pés no céu,
a mastigar flocos de vapor adocicado,
tipo algodão-do-céu com sabor a madrugada.

E todos os poetas foram com os anjos,
ao nosso lado, apanhar migalhas de nuvem
e guardá-las num frasco —
porque nunca se sabe
quando precisamos de um bocadinho de céu
para os dias pesados.

Quando acordei, a minha cama estava imóvel
e eu, estendida ao contrário.

©Piedade Araújo Sol 2025-11-03
Imagem : Alexis Mire

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