Sou um cão a quem puseram o nome de Adolfo. É um nome esquisito, mas eu acho-o fixe.
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Vivo com o meu dono, que é um chato. Chato é pouco, é chatérrimo, mas que posso eu fazer… afinal eu não escolhi o dono que tenho, ele é que me escolheu a mim. Ele nem sempre é chato, por vezes é um bom dono, mas irrita-me quando vai surfar e não me leva. Eu bem faço cara de mau e fico amuado como um cão vadio, mas ele quando embirra que não! É não mesmo.
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Leva-me todos os dias a passear, é certo, mas gostar mesmo é quando ele me leva a passear pela praia. Ele leva uma bola e brinca comigo, pareço um maluco a correr atrás dele e da bola.
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De vez em quando arranja umas namoradas. As namoradas dele nunca gostam de mim, dizem que sou muito grande e por vezes chamam-me nomes que o meu parco vocabulário de canino não atinge muito bem. Elas são meio malucas, acho que é por isso que ainda não casou, mas também não sei se há tempo ou idade para isso. Para casar, pelo que sei, os humanos assinam um papel e depois são casados. Nós, os cães, não precisamos disso. Acasalamos e pronto.
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Quando ele acaba com as namoradas, eu fico feliz da vida. Acho que ganho mais passeios pela praia, mas ele fica cabisbaixo e anda triste como uma lata de friskies fora de prazo.
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Uma vez achei que ele ia casar mesmo. Essa namorada era diferente, talvez ainda mais maluca do que todas as outras. Ele chamava-lhe doida, mas era a brincar… ela não era nada doida, nunca entendi porque lhe chamava isso, mas um canino não pode entender tudo. Lembro que um dia afagou-me o pêlo e disse:
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-Adolfo, eu amo essa doida.
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Acho que a amava mesmo, mas ela um dia disse que ia embora, que estava farta do mar, e foi mesmo! Nunca entendi, mas há coisas que não são mesmo para entender. Se ela estava farta do mar, por que entrou pelo mar dentro num dia de temporal?
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Fazia frio nesse dia as ondas estavam alteradas e ela disse-me:
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- Adolfo trata bem do teu dono, chegou a hora de me ir embora.
.Trancou a porta da entrada e saiu directamente para a praia. Eu ladrei a plenos pulmões, mas ela olhou-me com o olhar absorto como se já não me visse e saiu rapidamente. Entrou toda vestida no mar. O corpo foi devolvido na manha seguinte à orla da praia.
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O meu dono andou desamparado. Acho que ainda anda… ele nunca entendeu porque motivo ela disse que estava farta do mar...
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Puseram-me o nome de Adolfo… que nome esquisito para chamarem a um cão
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Autor: ©Piedade
Araújo Sol
Etiquetas: Piedade Araújo Sol, Prosa Poética