Saul Landell
Ela pensava que os domingos,
eram sempre cheios de sol.
.
Por vezes, chovia, e na solidão da casa,
ela detestava que o tempo não fosse de sol
e ficava a olhar através da janela,
o telhado inundado das casas,
com a água a escorrer pelas paredes.
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Achava que era um pouco mórbido,
mas era uma maneira de preencher
o olhar
sôfrego de coisas novas.
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E pensava nas asas
dos anjos,
que deviam ficar encharcadas e pesadas.
.
Um dia que não chovia,
e, nem sequer era domingo,
com muito esforço abriu o portão grande e saiu,
para a estrada que dava para a praia,
enterrou os pés pequenos na areia.
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Por breves momentos, viu o vulto de um anjo
com as asas completamente molhadas,
que lhe disse,
“nunca deixes de sorrir, eu gosto do teu sorriso”.
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Ela sorriu e sabe que ninguém reparou no seu sorriso
.
E nem era domingo,
Nem sequer chovia, e
ela jura que não sonhou.
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©Piedade Araújo Sol
2016-05-10