Escrevo e sei que é inútil. Adio o inadiável. E sei que não estou a ser coerente.
Podias ser a minha balada, mas acho que não! Bem à maneira portuguesa, diria que és o meu Fado.
Quantas vezes já te apaguei da minha vida? Muitas! Finjo que apago, mas, não se pode extinguir, aquilo que fica impregnado em nós, na nossa vida, na nossa pele, nas nossas recordações que passam a fazer parte dos nossos pensamentos quotidianos.
Estás sempre presente, embora ausente, até o teu número de telefone sei-o de memória. Até nisso te achei graça. Quando te perguntei, tu abanaste a cabeça, e disseste entre uma sonora gargalhada:
- Não precisas gravar. Os dois primeiros algarismos são os mesmos da tua rede, os 3 seguintes é o dia e o mês em que nasci os outros 4 é a tua e a minha idade, quando nos conhecemos. Bingo!
Fiquei atónito. Os números batiam certo. Fazes charadas como ninguém e com uma rapidez que me impressiona.
Por vezes conversas demasiado, por vezes és silenciosa demais, mas quando falas, a tua voz soa melodiosa e tem a faculdade de me aquietar, mesmo quando estou abespinhado com tudo e com todos.
Quando morro de saudades tuas e te telefono, invento mil e uma desculpas, e finjo que nem sei porque te estou a ligar. Tu ris, e dizes sempre:
- Oh, deixa lá, passa por cá, vamos jantar e passear por aí.
A tua disponibilidade para mim assusta-me e atrai-me, por isso vou. Vou sempre, encho-me de ti, do teu sorriso, do teu corpo do teu cheiro.
E quando regresso para casa, volto a pensar que te tenho de apagar, para sempre, ou por mais um tempo.
Mergulho no trabalho, esqueço, tento, e sei que é em vão.
Por isso desisto, já nem me importo, se sei que talvez amanhã, ou mesmo hoje, estarei a digitar o teu número de telefone, e tu dirás sorrindo:
- Oh, Passa por cá vamos jantar e dar um passeio por aí...
Foto de :Carlos Pereira de Olhares